quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

AS MADONAS DE LENINGRADO



As Madonas de Leningrado, de Debra Dean, conta a história de Marina, uma mulher vítima com Alzeimer e que sobreviveu ao cerco de Leningrado, durante a segunda Guerra Mundial.  No estágio de sua doença, ela se recorda da época em que era guia do Museu Hermitage e como procurou memorizar as obras de arte que haviam sido retiradas das paredes e enviadas a outros países para que não fossem destruídas pelos bombardeios dos alemães. Marina se recorda também da fome e da luta diária pela sobrevivência.

O cerco a Leningrado, outrora São Petersburgo, iniciou-se de 1941. A cidade, além de ser constantemente bombardeada, foi isolada. Com isso, a maioria das pessoas morreu de frio ou fome. Durante quase três anos contabilizou-se cerca de um milhão de mortos, entre os quais, quase oitocentos mil pela fome. Segundo Pierre Vallaud, autor de O cerco de Leningrado, gatos, cachorros, pássaros e outros animais desapareceram das ruas. A população se alimentava de cola de tapeçaria, gesso e capim. Uma das raras sobreviventes do genocídio, Olga Berghotz, diz que a passagem do tempo era medida pelo intervalo que separava um suicídio do outro.

Ficção, assim como o filme Leningrado, de Aleksandr Buravsky, o romance de Debra Dean faz uma homenagem à população de Leningrado, resgatando a sua cultura e divulgando parte de sua triste história, mantida em segredo durante muitos anos. 

sábado, 21 de julho de 2012

On the road



O livro Pé na estrada, de Jack Kerouac expõe os sonhos de muitos jovens, nos Estados Unidos, durante os anos 40/50. Sem expectativas quanto ao futuro, o narrador, Sal, estudante universitário, se junta a outros jovens, de diferentes classes sociais, e embarca em viagens pelo país, em busca de algo que, acredito, deveriam buscar (e de certa forma encontram) dentro de si mesmos. Vários músicos e artistas, como Bob Dylan e Hector Babenco, após ler a obra, empreenderam viagens similares às dos personagens. Segundo o tradutor, Eduardo Bueno, a explosão hippie dos anos 1960 pode ser interpretada como uma conseqüência indireta de On the Road.

O personagem de maior destaque na trama é Dean, um jovem vindo de uma família desestruturada, a mãe morta e o pai alcoólatra e preso. Ele não tinha limites e via nas estradas a liberdade não encontrada na vida monótona de um trabalhador braçal. Os personagens se acham, muitas vezes, grandes filósofos. ”Essa é a história da América. Todo mundo faz o que pensa que deve fazer”, ou “... todo mundo na América é ladrão de nascença”, ou “o que Deus deveria estar pensando quando fez a vida ser tão triste assim”, pensavam. Em outras cenas, querem apenas curtir o álcool, as drogas e os relacionamentos com muitas garotas, apaixonando-se continuamente.

Os estilos musicais que os encantavam eram o jazz e o blues, interpretados por negros e por pessoas consideradas à margem da sociedade, além das músicas e danças mexicanas. Para mim, a melhor parte do livro foi a viagem ao México. A pobreza, o isolamento e a cultura de um povo muito diferente dos americanos. Acho que esta experiência foi bastante importante para os loucos viajantes.

De acordo com Eduardo Bueno, a arte do livro está em seu estilo oral. Assim, ela deveria ser lida em voz alta para realçar a sonoridade das palavras empregadas por Kerouac. Na tradução, Bueno mantém intacta a aura de transgressão, lirismo e loucura. Nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra, começa-se a criar uma inversão de costumes e valores, também conhecido como o espírito beatnick, que pode ser um sentimento, um cheiro, o som da liberdade, o sentimento de “sacar a vida”, algo novo e bom.

Contexto histórico
Após a segunda guerra mundial, os EUA e a URSS iniciam uma verdadeira disputa onde dividem o mundo em dois pólos distintos. Ambos os lados acusavam-se mutuamente de tentar dominar o mundo através de políticas autoritárias e antidemocráticas. Nos EUA duas situações que contribuíram para sua adesão à Guerra Fria foram a morte do presidente Franklin Roosevelt (1945), que defendia um mundo controlado pelos EUA com o apoio da URSS após o fim da guerra; e a eleição de um Congresso Republicano (1946) conservador. Com a morte de Roosevelt, Harry Truman assume o poder e muda o discurso da “coexistência pacífica” entre URSS e EUA, sabendo que se encontrava em vantagem por dispor de um arsenal de armas nucleares, além de ser o único país que saiu fisicamente ileso do conflito.
Desta forma, foi lançada em 1947 a Doutrina Truman que designa um conjunto de medidas políticas e econômicas assumidas por Harry Truman, com um violento discurso contra a “ameaça comunista”, em que os EUA assumem o compromisso de defender o mundo dos soviéticos. Os EUA passariam a intervir em qualquer guerra a fim de obedecer a Doutrina e “auxiliar os países a derrotar os insurgentes comunistas”. Assim, de 1950 a 1961 os EUA interviram na Guerra da Coréia, na Guerra do Vietnã, no Irã, Guatemala, apoiaram a invasão de Cuba e criaram a “Escola das Américas”, no Panamá, onde os militares eram incentivados a assumir o poder em seus países. (infoescola.com/historia/doutrina-truman)




terça-feira, 26 de junho de 2012

Um copo de cólera, Raduan Nassar


É a história de amor entre uma jornalista e um botânico durante a ditadura militar. O homem mora em um sítio, pois quer ficar longe dos acontecimentos. A jornalista, na cidade, pois é uma mulher engajada no movimento contra o regime autoritário.

Por causa de um formigueiro que destrói parte de uma cerca viva, o homem fica furioso, o que causa indignação na mulher. A partir daí discutem. São expostas suas contradições ideológicas e subjetivas. Eles seriam a razão e a emoção, em que um não vive sem o outro. “...a razão jamais é fria e sem paixão”, pensa ele. No meio da discussão questões são levantadas, todas de forma bruta e amarga. Ele sabia e elogia a inteligência dela: ”...não que me metessem medo as unhas que ela punha nas palavras”.

Ele faz uma alusão ao regime autoritário e, de certa forma, à natureza do ser humano quando diz que o povo nunca chegaria ao poder, “porque o povo fala e pensa, em geral, segundo a anuência de quem o domina”... “a força escrota da autoridade fundamenta toda ‘ordem’, palavra que incorpora, a um só tempo, a insuportável voz de comando e o presumível lugar das coisas”. Quando o veneno escorre de sua boca, ele incorpora o canalha que existe nele e a seduz, buscando os pontos fracos dela: os beijos e os pés dele. Assim, à medida em que ela se envolve, ela se torna sua presa, é ele quem manda e ela obedece.

 A solidão povoada de Raduan Nassar, por Pedro Maciel
 Raduan Nassar, autor de "Lavoura Arcaica", "Um copo de cólera" e "Menina a caminho" afastou-se definitivamente da literatura. "Desisti de escrever porque há um excesso de verdade no mundo” (Otto Rank). Segundo Nassar, o que o levou a escrever e depois parar foi a paixão pela literatura, que ele não sabe como começa essa paixão e porque acaba.
Nassar, filho de imigrantes libaneses, nascido em 1935, estudou direito, filosofia e exerceu o jornalismo como diretor do Jornal do Bairro (SP) nos anos 70. Desencantou-se com a imprensa de uma maneira geral. Hoje ele planta feijão e milho de pipoca numa fazenda do interior paulista. Raduan, um dos escritores mais notáveis surgidos no país depois de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, também se recusa a dar entrevistas, afinal, diz o escritor, "sou apenas um escritor passageiro".
Ao encontrá-lo recentemente, me lembrei do romance "Lavoura arcaica", que resgata a tradição cristã e a proibição do incesto, o patriarcado e a obrigação do trabalho. Os temas característicos do romance são os da tradição mediterrânea, como a terra, a plantação, a colheita, a mesa e a família. É uma parábola do filho pródigo, sem final feliz. Narrativa trágica, bíblica e helênica.
Raduan é um ser trágico, desiludido, desesperançado, atormentado como o narrador-personagem da novela "Um copo de cólera" que vive um amor irreconciliável, perturbador e erótico. Uma paixão devastadora. Os amantes tentam a todo instante abater um ao outro. Vivem um amor tumultuado, fazendo do dia-a-dia uma guerra existencial, filosófica e política.
 (Pedro Maciel é poeta, publicou "Longe da terra dentro do ar" (poesia), "Olegário das Gaiolas” (fábula). Organizou e prefaciou "Poemas Eskolhydos, de Glauber Rocha, entre outros livros.)


quarta-feira, 20 de junho de 2012

O estrangeiro


O romance O estrangeiro, de Albert Camus, narra uma história bastante concisa e sob a perspectiva existencialista, proposta filosófica, que valoriza os sentimentos dos personagens e coloca em oposição valores impostos por uma sociedade cruel, fria, e que não respeitava a dignidade do cidadão. A Grande Depressão, a Segunda Grande Guerra e o descobrimento da bomba atômica são fatos que influenciaram a obra de Camus. Ele acreditava que o que de mais trágico existia na condição humana era o absurdo, o limite entre aspirações e realidade.

O personagem principal é Meursault, um jovem escriturário, um homem comum. Ele não possui ambições e demonstra pouca empatia social. Contenta-se com prazeres imediatos. Sua indiferença para com o mundo se expressa na frase, várias vezes repetida: “Tanto faz”. Ter uma posição melhor no trabalho, casar com uma mulher, sem a amar, apenas para deixá-la feliz, perder a mãe, não fazia muita diferença, uma vez que mais dia, menos dia, as coisas aconteciam independentes da nossa vontade.

Surge o inesperado. Meursault assassina um árabe em um dia de sol muito quente, em uma praia. Ele não sabe explicar o motivo desse seu ato. Camus, provavelmente, realçou o fato da personagem ter matado um árabe, visto que a maior parte da população da Argélia era de árabes, enquanto os franceses controlavam o país. Meursault, por não ser árabe, era um estrangeiro no lugar onde vivia.

Na prisão, ele procura nas suas lembranças uma forma de driblar a monotonia das intermináveis horas de solidão, em que o tempo escoa idêntico a cada dia. Mas, apesar de toda a sua indiferença, ele deseja voltar a ser livre para poder nadar, ir à praia, encontrar-se com Marie.

Em suas reflexões, mesmo antes de ser preso, ele conclui que o homem se habitua a tudo na vida, principalmente às perdas. Em várias passagens do livro ele se refere ao ato de habituar como uma forma de viver. A maior dificuldade era se habituar à perda da sua liberdade de ir e vir.

“Todos sabem que a vida não vale a pena ser vivida. No fundo, ignorava que morrer aos trinta ou aos setenta anos tanto faz, pois em qualquer dos casos outros homens e mulheres viverão, e isso durante milhares de anos. No fim das contas, isso era claro como água, hoje ou daqui a vinte anos, era o mesmo eu quem morria”.

O livro faz também uma crítica ao sistema judiciário, mostrando como os advogados e promotores manipulam a verdade. No caso de Meursalt, durante seu julgamento eles fazem com que o réu se torne um mero espectador de seu destino. E ainda levantam outras questões de sua vida, em que sua apatia tomava a forma de um crime. Como em um teatro de absurdos, o seu verdadeiro crime perde a relevância. Por fim, ele é condenado à morte.

Em toda a narrativa, a paisagem mostra uma cidade muito quente, ensolarada, areia, mar e muita luz. Essa paisagem parece estar associada à natureza de Meursalt. Ele seria um estrangeiro, vindo de um lugar em que o clima era bem diferente, e vivia em um cenário onde a luz e o calor do sol desnorteia o homem, não havia sombras. Por ironia, os seres humanos criavam suas próprias sombras.

sábado, 16 de junho de 2012

Tropical sol da liberdade


Tropical sol da liberdade, de Ana Maria Machado, é um romance histórico, político e psicológico, pois traz para o leitor experiências e notícias de fatos marcantes dos anos da ditadura militar. Tudo isso a partir de uma visão feminina, uma vez que a protagonista é uma jornalista, Lena, com suas lembranças da infância e juventude, ao lado da família e de amigos.

Helena é uma mulher muito independente, desde criança gostava de tomar suas próprias decisões. Em um dado momento precisa de ajuda da mãe, por motivos de saúde. Essa atitude é muito difícil para ela, uma vez que seu relacionamento com a mãe nunca foi dos mais gratificantes. No entanto, com o passar dos dias ao lado da mãe, ela compreende os motivos das decisões tomadas por sua mãe durante a vida, pois tudo era feito com amor e, como todas as mães, ela sempre fizera o que achava importante para a felicidade e bem estar dos filhos.

Nas recordações de Lena, o avô ocupa um lugar de destaque, como uma figura muito marcante em sua vida. Ele mostrava a ela a simplicidade da sabedoria da natureza. As árvores desfolhavam no outono para economizar energia, que dispensaria à fotossíntese, para sobreviver ao inverno e renascer na primavera, com folhas novas e flores. Essa lembrança fez com que ela se sentisse como aquela árvore, pois naquele momento Lena se encontrava desfolhada, triste por suas perdas recentes, mas, diferente da árvore, ela ainda não via que logo viria sua primavera, e se poderia se renovar em novas folhas e flores.

A narração incorpora o modo de falar ou pensar do narrador, em uma linguagem que reflete sua condição social. Por meio dos diálogos percebemos onde os personagens moram, e as gírias sinalizam a época em que os fatos acontecem.

A autora, antes de cada capítulo, cita um poema ou parte de uma melodia. É como um diálogo com autores como Drummond, Vinícius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro e Paulinho da Viola. Esse recurso, também encontrado dentro da narrativa, mostra que os personagens são pessoas de classe média e intelectuais, e ainda, contextualizam o período em que os fatos ocorreram, uma vez que são versos alusivos à pátria, ao exílio ou a questões de natureza existencial: “Falo somente para quem falo:/ quem padece sono de morto/e precisa um despertador/acre, com o sol sobre o olho:/que é quando o sol é estridente,/a contrapelo, imperioso,/e bate nas pálpebras como/se bate numa porta a socos” (João Cabral de Melo Neto); “Você corta um verso/eu escrevo outro/você me prende vivo/eu escapo morto/de repente olha eu de novo/perturbando a paz/exigindo o troco”. (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro).

Há também algumas citações bíblicas como “Debaixo do sol observei ainda o seguinte: a injustiça ocupa o lugar do direito, e a iniqüidade ocupa o lugar da justiça. Então eu disse comigo mesmo: “Deus julgará o justo e o ímpio, porque há tempo para todas as coisas e tempo para toda obra” (Eclesiastes, 3:16-17).

domingo, 29 de abril de 2012

O homem duplicado



O homem duplicado narra a vida de Tertuliano Máximo Afonso, um  homem à procura de respostas para o caso insólito em que está inserido. Pensar o ser e o agir neste livro conduz o leitor aos labirintos da sensibilidade humana esquecida em meio às ocupações. Da igualdade retirada nas diferenças, o fundamento unificador da existência do personagem, possibilita a interpretação em termos do homem agir em função da própria compreensão.(Madalena Aparecida Machado, doutoranda em Ciência da Literatura, UFRJ)

“O homem duplicado”, de José Saramago, conta a história de um professor de história que, ao ver um filme em um videocassete, se assusta com um personagem que é igual a ele, como se fossem gêmeos. Tertuliano Maximo Afonso começa a investigar o ator, até encontrar o seu endereço. Com as informações em mãos, ele se atormenta com uma série de pensamentos relacionados ao que poderia acontecer se resolvesse se encontrar com o ator, de nome Antonio Claro.

Tertuliano é divorciado e tem uma namorada, Maria da Paz. É um homem solitário e metódico em sua rotina. Ele revela a descoberta do sósia apenas para sua mãe, Carolina, que o aconselha a contar o segredo a Maria da Paz e a não se encontrar com seu duplo. No entanto, ele telefona para Antonio Claro e, posteriormente, marcam um encontro. Nesse encontro, Tertuliano decide que aquela história deveria ter um ponto final a partir daquele momento. Mas, para Antonio Claro a vida mudou, pois sua mulher ficou muito transtornada com a existência de um duplo de seu marido, causando problemas em seu relacionamento conjugal. Assim, Antonio Claro resolve se vingar de Tertuliano. Essa vingança, inesperadamente, muda a trajetória de suas vidas.

Saramago caracteriza muito bem seus personagens por meio do interior de cada um deles. Os questionamentos de ambos, depois da descoberta do outro, exploram sentimentos controversos vivenciados no presente e expectativas complicadas quanto ao futuro. Enquanto Tertuliano achava que o seu espírito sossegaria e poderia se sentir livre depois de se encontrar cara a cara com o seu duplo, Antonio Claro começa a se sentir atormentado como Tertuliano havia se sentido quando descobriu, no filme, o seu sósia. (Rô Andrade)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Mensagem do Perdão

Pietro Ubaldi (ubaldibh.org)

Mensagem escrita no dia 2 de agosto de 1932, dia do Perdão da Porciúncula, de Francisco de Assis.

(...)

Minha verdade é áspera e nua, contudo é a verdade. Peço o vosso esforço, mas dou a felicidade. Digo-vos: “Sofrei”, mas junto de vós estarei no momento da dor; com piedade maternal, velarei por vós; medindo todo o vosso esforço, proporcionarei as provas segundo vossa capacidade; finalmente, farei o que o mundo não faz: enxugarei vossas lágrimas.

O mundo parece espargir rosas, mas na verdade distribui espinhos; eu vos ofereço espinhos, porém vos ajudarei a colher rosas.

Segui-me, que o exemplo já vos dei. Levantai-vos, ó homens: é chegado o momento. Não venho para trazer guerra, mas, sim, paz. Não venho trazer dissensão às vossas idéias nem às vossas crenças: venho fecundá-las com meu espírito, unificá-las na minha luz.

Não venho para destruir e sim para edificar. O que é inútil morrerá por si mesmo, sem que eu vos dê exemplo de agressividade.
(...)

Não vos peço que compreendais meu poder, que me situa longe de vós; rogo-vos que compreendais o meu amor que me assemelha a vós e me coloca ao vosso lado. Meu poder poderá desalentar-vos e atemorizar-vos, dando-vos de mim uma ideia não justa, a de um senhor vingativo e despótico. Não quero vossa obediência por temor. Agora deve despontar uma nova aurora de consciência e de amor. Deveis elevar-vos a uma lei mais alta e eu retorno hoje para anunciar-vos a boa nova. Não sou um senhor vingativo e tirânico, como outrora, por necessidade, me supuseram os povos antigos; sou o vosso amigo e é com palavras de bondade que me dirijo ao vosso coração e à vossa razão.

Não mais deveis temer, mas, sim, compreender. Vossa razão infantil já acordou e nela venho lançar minha luz. Sou síntese de verdade e em toda a parte ela surgirá, atingindo a luz da vossa inteligência.

Não trago combates, mas paz. Não trago divisões de consciência e, sim, união de pensamentos e de espíritos.

A humanidade terrestre aproxima-se de sua unificação, numa nova consciência espiritual. Não vos insulteis, pois; antes, compreendei-vos uns aos outros. Que cada um concorra com o seu grãozinho para a grande fé e que esta vos torne todos irmãos.

Que a religião, que é revelação minha, e a ciência, que é o vosso esforço e todas as vossas intuições pessoais se unam estreitamente numa grande Síntese, e seja esta uma síntese de verdade.

Porque eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Palavras


“Para isto servem as palavras, para estabelecer laços entre as pessoas – e para criar beleza. Pelo que a elas devemos ser eternamente gratos”. (Moacyr Scliar)

Jesus não deixou quaisquer palavras escritas, mas suas palavras permanecem vivas até hoje, perpetuadas nos evangelhos, escritos por seus discípulos.

Para que sua mensagem de amor alcançasse a eternidade, Jesus falava por meio de parábolas. Dessa forma, de acordo com o contexto social e histórico em que as pessoas viviam e viveriam, elas poderiam ser interpretadas. Muitos são os significados atribuídos às suas palavras, e a partir desses significados as religiões foram criadas pelos homens. No entanto, embora cada um interprete as palavras conforme seus valores e saberes, a lei maior – do amor – não se perdeu.

Podemos perceber tão poderosa e necessária é a palavra, pois é por meio dela que adquirimos conhecimento. Por meio do conhecimento e da experiência ganhamos sabedoria.  É sábio aquele que usar a palavra com humildade, como Jesus nos ensinou.

Hoje nos formamos professores e podemos seguir os ensinamentos do Mestre Jesus em nossa tarefa de ensinar e educar. Fazendo com amor o trabalho que nos propusermos a executar, procurando respeitar o próximo com suas particularidades e necessidades. Confiantes no Mestre, esperamos saber ser pacientes e tolerantes nas horas difíceis, e que o orgulho não nos transforme em pessoas egoístas e prepotentes.

A ferramenta no nosso trabalho, a partir de hoje, será a palavra. Com ela poderemos contribuir para um mundo melhor. Somemos a ela o amor de Cristo para sairmos vitoriosos em nossa jornada futura!

Maria do Rosário



Tia Julia e o escrevinhador

A mesma leveza de Travessuras da menina má e o mesmo estilo narrativo de O paraíso é na outra esquina podem ser encontrados nesta obra de Mario Vargas Llosa. Tia Julia e o escrevinhador alterna os capítulos entre as memórias de adolescência e juventude do autor com as novelas de rádio do personagem Pedro Camacho. Por meio dos sonhos da juventude, dos costumes e das leis vigentes, o autor nos apresenta a situação social, política e econômica da Lima nos anos 50.

Varguitas, apelido de Mario, estuda direito, trabalha na edição de notícias em uma rádio e sonha se mudar para Paris e se tornar escritor. Ele conhece Pedro Camacho, um contador de histórias que escreve novelas de rádio e fica perplexo com a rapidez e imaginação com que Camacho escreve as novelas, ao passo que ele, Varguitas, encontra muitas dificuldades para escrever um conto, perfeccionista que é em busca da verdadeira literatura, é seu maior crítico e juiz.

Camacho é um homem mergulhado totalmente ao trabalho, escrevendo ininterruptamente e simultaneamente quatro novelas, que caem no gosto popular e o transformam em um ídolo. Ele se dedica tanto ao trabalho que não se alimenta regularmente e não tem qualquer distração em sua vida. Com o passar do tempo, Camacho começa a misturar os personagens das novelas, em seguida passa a matá-los em grandes catástrofes, causando indignação em seu público. Por fim, não há outra alternativa senão interná-lo em um hospital psiquiátrico.

Paralelamente às suas pretensões literárias, Varguitas se apaixona por sua tia Julia, uma mulher de 30 anos, recentemente divorciada, que voltara para Lima em busca de um novo marido. O namoro é mantido em segredo por um bom tempo, mas quando toda a família fica sabendo, ele resolve se casar com ela, causando grandes transtornos no círculo familiar. Os noivos se envolvem em muitas aventuras para conseguirem oficializar o matrimônio, que são narradas com muito humor.

A história termina com um breve resumo do autor sobre os últimos doze anos de sua vida, em uma das visitas que faz anualmente a Lima. Ele se tornara escritor e havia morado em Paris, conforme sonhara. Desta vez ele reencontra alguns amigos da juventude e entre eles Pedro Camacho. Este ocupava um posto inferior em uma revista e era motivo de gozações de seus colegas, mas para Vargas Llosa era alguém que ainda merecia seu respeito.