sábado, 21 de julho de 2012

On the road



O livro Pé na estrada, de Jack Kerouac expõe os sonhos de muitos jovens, nos Estados Unidos, durante os anos 40/50. Sem expectativas quanto ao futuro, o narrador, Sal, estudante universitário, se junta a outros jovens, de diferentes classes sociais, e embarca em viagens pelo país, em busca de algo que, acredito, deveriam buscar (e de certa forma encontram) dentro de si mesmos. Vários músicos e artistas, como Bob Dylan e Hector Babenco, após ler a obra, empreenderam viagens similares às dos personagens. Segundo o tradutor, Eduardo Bueno, a explosão hippie dos anos 1960 pode ser interpretada como uma conseqüência indireta de On the Road.

O personagem de maior destaque na trama é Dean, um jovem vindo de uma família desestruturada, a mãe morta e o pai alcoólatra e preso. Ele não tinha limites e via nas estradas a liberdade não encontrada na vida monótona de um trabalhador braçal. Os personagens se acham, muitas vezes, grandes filósofos. ”Essa é a história da América. Todo mundo faz o que pensa que deve fazer”, ou “... todo mundo na América é ladrão de nascença”, ou “o que Deus deveria estar pensando quando fez a vida ser tão triste assim”, pensavam. Em outras cenas, querem apenas curtir o álcool, as drogas e os relacionamentos com muitas garotas, apaixonando-se continuamente.

Os estilos musicais que os encantavam eram o jazz e o blues, interpretados por negros e por pessoas consideradas à margem da sociedade, além das músicas e danças mexicanas. Para mim, a melhor parte do livro foi a viagem ao México. A pobreza, o isolamento e a cultura de um povo muito diferente dos americanos. Acho que esta experiência foi bastante importante para os loucos viajantes.

De acordo com Eduardo Bueno, a arte do livro está em seu estilo oral. Assim, ela deveria ser lida em voz alta para realçar a sonoridade das palavras empregadas por Kerouac. Na tradução, Bueno mantém intacta a aura de transgressão, lirismo e loucura. Nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra, começa-se a criar uma inversão de costumes e valores, também conhecido como o espírito beatnick, que pode ser um sentimento, um cheiro, o som da liberdade, o sentimento de “sacar a vida”, algo novo e bom.

Contexto histórico
Após a segunda guerra mundial, os EUA e a URSS iniciam uma verdadeira disputa onde dividem o mundo em dois pólos distintos. Ambos os lados acusavam-se mutuamente de tentar dominar o mundo através de políticas autoritárias e antidemocráticas. Nos EUA duas situações que contribuíram para sua adesão à Guerra Fria foram a morte do presidente Franklin Roosevelt (1945), que defendia um mundo controlado pelos EUA com o apoio da URSS após o fim da guerra; e a eleição de um Congresso Republicano (1946) conservador. Com a morte de Roosevelt, Harry Truman assume o poder e muda o discurso da “coexistência pacífica” entre URSS e EUA, sabendo que se encontrava em vantagem por dispor de um arsenal de armas nucleares, além de ser o único país que saiu fisicamente ileso do conflito.
Desta forma, foi lançada em 1947 a Doutrina Truman que designa um conjunto de medidas políticas e econômicas assumidas por Harry Truman, com um violento discurso contra a “ameaça comunista”, em que os EUA assumem o compromisso de defender o mundo dos soviéticos. Os EUA passariam a intervir em qualquer guerra a fim de obedecer a Doutrina e “auxiliar os países a derrotar os insurgentes comunistas”. Assim, de 1950 a 1961 os EUA interviram na Guerra da Coréia, na Guerra do Vietnã, no Irã, Guatemala, apoiaram a invasão de Cuba e criaram a “Escola das Américas”, no Panamá, onde os militares eram incentivados a assumir o poder em seus países. (infoescola.com/historia/doutrina-truman)