Neste romance, Vargas Llosa usa a técnica narrativa
de escrever histórias paralelas que se encontram em determinado momento, assim
como em O paraíso é na outra esquina
e Tia Júlia e o escrevinhador. Neste
caso, o elo entre as histórias acontece já no final, mas são as referências
contidas nos enredos, ou seja, as relações entre pais e filhos, sentimentos de
amor e ódio, vinganças, injustiças, respeito, orgulho, que unem essas histórias
do princípio ao fim.
Dois filhos de um pai muito rico não gostam de
trabalhar e são sustentados por ele, que esperam com ansiedade sua morte para se
apossarem dos bens, uma vez que sua mãe havia falecido há pouco tempo. Ismael,
o pai, ouve uma conversa dos filhos a respeito, e decide se vingar deles,
casando-se com uma empregada da casa e deixando tudo para ela.
Felicito também tem dois filhos que se sentem
incomodados com a posição que ocupam na empresa de transporte do pai que, com a
intenção de educá-los, coloca-os para exercer várias funções na empresa que um
dia será deles. Casado, sem amor, com Gertrudes, grávida e com a insistência da
mãe que afirmava ser seu o filho. O nascimento de Miguel deixa o pai cheio de
dúvidas, pois o menino não se parece em nada com ele. Embora sua mulher dedique
todo o seu tempo à vida doméstica e à igreja, provando-se uma pessoa de bem,
ele a trata com certa indiferença.
Miguel, que se sente mais injustiçado que seu irmão
Tiburcio, arma um plano para extorquir dinheiro do pai. Para isso, conta a
ajuda da amante do pai, Mabel, que também mantém um relacionamento com ele. Seu
plano constava do envio de cartas pedindo dinheiro em troca de proteção, como
fazem grupos clandestinos. No entanto, Felicito não aceita pagar, afirmando ser
um homem trabalhador e fiel a seus princípios, podendo ser considerado honesto.
Ele prometera a seu pai, que tanto sofrera para criá-lo, que ninguém passaria
sobre ele. Esse orgulho é levado a sério, não abrindo mão dele por nada nesse
mundo. Em nome desse orgulho, Felicito se vinga daquele que não é seu filho.
Rigoberto, amigo de Ismael, tem um filho
adolescente. O menino é muito inteligente, tem poucos amigos e cria um personagem
imaginário com quem conversa sobre filosofia, ética e religião. Seu pai, a
princípio, acha que o filho está mentindo, mas os médicos dizem que não, sem
apresentarem um diagnóstico para tal visão. Talvez esse homem seja do jeito que
Fonchito gostaria que seu pai fosse, alguém com quem pudesse conversar sobre
variados temas, que lhe dedicasse mais tempo. Rigoberto sempre trabalhara muito
e, quando chegava em casa, gostava de ficar no escritório lendo sobre arte e
ouvindo suas músicas preferidas, além do mais era agnóstico e intransigente a
respeito de vários assuntos.
A aranha que aparece nas cartas enviadas a Felicito
pode ser uma referência que Miguel encontrou para mostrar seu sentimento ao
pai, ou seja, ele pode considerar seu pai um inseto e vai prendê-lo em sua
teia. Essa questão também pode ser remetida aos filhos de Ismael, que fazem de
tudo para que o pai seja interditado depois do casamento e, assim, possam tomar
posse da herança.
O herói discreto pode ser Fonchito, uma vez que conquistou
a confiança do pai. Além dos muitos heróis, homens comuns, que lutam pela
sobrevivência, e podem ser considerados verdadeiros heróis.