quinta-feira, 31 de março de 2016

O IDIOMA DO PODER

Entrevista com o professor titular de linguística e semiótica da USP, Izidoro Blikstein.

Que político se expressa melhor, na sua opinião? Barack Obama, que tem repertório, fluência, é agradável e fala com um sorriso aberto.

Como avalia o discurso da presidente Dilma Rousseff? Ele tem sempre entonação de imposição, o que extingue o poder de persuasão. Quando ela lê discursos, separa o sujeito do verbo, cita frases pela metade, lê algo que acaba em outra página e, muitas vezes, nem percebe. Por alguma razão, a presidente Dilma não é capaz de fazer um plano mental de organização de ideias, faltam-lhe coesão e coerência. Pode haver aí uma questão de ordem psíquica, mas só mesmo um psiquiatra para avaliar.

De que outra personalidade o senhor elogiaria o discurso? Da atriz Denise Fraga. Ela fala pausadamente, transmite seu recado – ainda que não agrade a quem está ouvindo – sem arrogância, gesticula de forma amigável e, assim, envolve o outro.

Como fazer para convencer alguém apenas com a palavra? Não desconsidere uma pergunta indevida ou descabida. Não humilhe o outro. Outra dica é evitar o “eu acho”. Achismos não são nada. O contato visual também é importante, exceto em alguns países orientais, como o Japão, onde ele é considerado invasivo. No Brasil, passa empatia.

O que faz todo mundo cochilar ouvindo um discurso? Linguagem rebuscada, o que é diferente de linguagem erudita.

Quais são as frases certeiras para pedir um aumento? Uma pessoa que apresentou bons resultados no passado e ainda não teve aumento, para consegui-lo, deve buscar algum tipo de atualização ou de nova qualificação profissional e explicar ao chefe que gostaria de realizá-la com um incentivo financeiro. Falar que “gostaria de um plano de carreira” também é bom.

Pode dar três conselhos para falar bem em público? Organize as ideias de acordo com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie a apresentação. Fale de forma suave. Envolva a plateia com uma brincadeira, cite um filme ou até conte uma história pessoal que tenha a ver com o que será apresentado. Isso se chama, no nosso jargão, gancho.


Por Thaís Botelho – Veja de 30 de março de 2016. p.32

A Metamorfose, de Franz Kafka


Franz Kafka (1883-1924) foi um dos escritores mais importantes do século XX. Nasceu em Praga (atual República Tcheca), em uma família judia, e compôs suas obras em alemão. Sua vida foi marcada pela relação difícil com o pai, pelos complicados relacionamentos afetivos e, por fim, pela tuberculose, que lhe consumiu os derradeiros anos. A prosa de Kafka desenvolve-se num mundo de pesadelo, em que predomina a solidão do individuo, indefeso diante do poder. 
A Metamorfose foi escrita em 1912, dois anos antes do início da Primeira Guerra Mundial, e publicada em 1915. O clima de agonia e pessimismo mantido por Kafka é apontado por alguns autores como relação direta com o cenário mundial daquela época. Cem anos depois (2015), a obra permanece atual, uma vez que aborda temas como crise existencial, desesperança, pessimismo, solidão e impotência.

Síntese da obra
É uma narrativa em que o personagem central, Gregor Samsa, desperta, certa manhã, transformado em um monstruoso inseto. A história se desenvolve em torno das mudanças de comportamento que Gregor observa em si e na sua família. Em primeiro lugar, narra-se a transformação e as primeiras reações do protagonista; em seguida, apresenta-se sua rendição a essa condição; por fim há o perecimento da personagem.
A perda da dimensão humana é provocada e assegurada por duas instâncias: o trabalho e a família. No primeiro caso, Gregor (que era caixeiro-viajante) se sentia preso ao trabalho, por causa de uma dívida da família. Ele não gostava do emprego e era explorado pelo patrão, por meio de um grande número de horas trabalhadas, o que lhe causava muito desgaste físico e mental. Sua rotina era muito irregular, em vista das muitas viagens que era obrigado a realizar, impossibilitando-o de criar vínculos de amizade e ter atividades de lazer.
Angustiado com o emprego que era obrigado a suportar, visando manter a família, Gregor, já como inseto, se sente enganado pelo pai quando o ouve seu mexer no cofre e tirar dinheiro do seu interior, era o que sobrara de sua falência. Somado ao salário que Gregor lhe entregava, o pai tinha uma boa quantia que poderia ser usada agora que ele estava impossibilitado de trabalhar.
Se antes de sua transformação, ele era o único responsável pelo sustento da família, uma vez inseto, a família assegura essa nova condição, afastando-o do convívio de seus membros, levando-o a ser completamente ignorado enquanto ser humano e identificado como um inseto imundo.
O pai, ao perceber o estado do filho, torna-se autoritário e violento, inibindo o que poderia ser uma tentativa de recuperação do filho, sendo, dessa forma, a figura responsável pelo isolamento do personagem.
A sua irmã, Grete, pode ser considerada o elemento que fornece as condições necessárias para manter o estado em que a integridade humana deste personagem se esvai, pois é ela que o alimenta e mantém limpo seu quarto. No primeiro dia, ela deixa para ele uma tigela de leite com pão, seu alimento preferido, porém, ao perceber que ele não gosta mais dessa comida, ela decide lhe servir restos de alimentos que são consumidos pelo irmão até determinado momento.  Talvez inconscientemente, ela lhe retira seu caráter humano, individual e social.
Como o irmão não tem como manifestar seus desejos, ela evita que sua mãe o veja, e observa seus hábitos. Assim, resolve ajustar o quarto para que ele possa se movimentar melhor e se adaptar à sua nova condição, fato que o torna submisso à irmã. Pode-se inferir que, por trás de uma máscara de boas intenções, ela o conduzia ao perecimento, pois quando ela percebe que ele não mais oferece perigo, o abandona.
A mãe parece ser o único membro da família que nutre algum sentimento pelo filho e tem esperanças que ele volte a ser o que era, condoendo-se com o seu sofrimento e tentando tomar a sua defesa. Mas sucumbe aos argumentos da filha, que a convence de que não pode interceder pelo filho.
Com o passar do tempo, o pai arruma emprego como segurança em um banco, e a mãe e a filha costuram roupas íntimas para vender. Gregor se torna, portanto, desnecessário. Aos poucos vai sendo esquecido no quarto, que se torna um cômodo para entulhos.
Passados alguns meses, Grete diz que a situação não pode mais continuar. Era preciso se livrar daquilo (não pronunciava o nome de Gregor). Ela argumenta que não se pode associar aquele monstro ao irmão Gregor, pois “se fosse Gregor, ele teria, há muito tempo, compreendido que o convívio de seres humanos com um bicho não é possível e teria ido embora voluntariamente”. Gregor ouve o desabafo da irmã, pois se encontrava no corredor da casa. Ele volta para o quarto e sua irmã se adianta e fecha a porta, gritando para a família “finalmente”, como se houvesse empurrado o irmão com os pés para dentro do quarto. Gregor fica deitado de costas com uma maçã apodrecida nas costas inflamadas. Nessa madrugada ele morre. A família se sente aliviada e sai para um passeio, onde falam de seus empregos e da necessidade de se mudarem para um apartamento menor, porém melhor situado.
Análises
A interpretação de uma obra depende de muitos fatores, por exemplo, o autor, ao escrevê-la tem em mente um leitor e, a partir dessa expectativa, produz sua narrativa. No entanto, outros leitores terão acesso à sua obra. Esses leitores construirão sua leitura a partir de seus conhecimentos de mundo, do contexto em que a obra foi escrita, assim como da biografia do autor, uma vez que todos esses elementos poderão ajudar na compreensão do texto.
Em uma das análises de A metamorfose, é possível concluir que o distanciamento em relação ao real encontrado na obra exige justamente uma revisão do real. Isso ocorre devido à atmosfera de não-normalidade que emerge das linhas e das entrelinhas da narrativa. A transformação de Gregor em um inseto exige que se questione sobre as razões disso e que se pergunte o que significa ser um inseto.
De acordo com Umberto Eco (1994), para se compreender uma obra de ficção é preciso acreditar naquilo que está escrito. Eco diz “é espantoso um homem acordar e se ver transformado em inseto; contudo, se realmente se transformou, tal inseto deve ter as características normais de um inseto normal”. A descrição inicial do despertar do personagem e se ver transformado em inseto constitui um exemplo de realismo, não de surrealismo. “Só nos cabe fingir acreditar que esse inseto comum é gigantesco”.
 “Mais adiante parece absurdo que, sem se fazer perguntas”, a família aceita a transformação, embora com reações iguais a de qualquer pessoa que se visse na mesma situação. “Kafka precisa situar sua história inverossímil num ambiente verossímil”.
Segundo Todorov (2014), as narrativas de Kafka constituem um exemplo de indeterminação de sentido. A estranheza causada pelos seus textos fez com que seus primeiros intérpretes os considerassem “parábolas mal disfarçadas de outra coisa”. Muitos questionamentos são levantados como a possibilidade de problemas religiosos, “a antecipação de mazelas de um mundo por demais materialista e burocratizado”, ou as dificuldades de relacionamento de Kafka com seu pai, assim como as dificuldades encontradas para se casar.
“A abundância de interpretações as torna suspeitas e conduziu uma segunda onda de exegetas a afirmar que a característica do texto kafkiano é de fato se prestar a uma pluralidade de interpretações, sem autenticar nenhuma”, expõe o autor.
Segundo W. Emrich:
Todas as possibilidades de interpretação permanecem abertas. Cada uma contém certa verossimilhança e nenhuma é segura de maneira unívoca. [...] A característica da obra de Kafka reside precisamente no fato de que nenhum sentido determinável de modo inequívoco pode ser fixado “por trás” das aparências, os acontecimentos e os discursos que a preenchem... (in Todorov, p.106)

Supondo-se que essa declaração possa ser verdadeira, “por qual meio Kafka produz esse efeito de simbolismo indecidível?”, indaga Todorov, e cita uma explicação de Marthe Robert:  “os próprios acontecimentos, representados nessas narrativas, só são instâncias de interpretação – e de interpretação impossível; o simbólico é, ao mesmo tempo, o princípio construtor e o tema fundamental do texto”.

100 anos de A Metamorfose
Para comemorar os 100 anos de A Metamorfose, o correspondente da GloboNews em Praga, Pedro Verdova, a fim de colher informações para o programa semanal sobre literatura da emissora, e exibido em 7 de novembro de 2015, conversou com a diretora da Sociedade Franz Kafka de Praga, Marketa Malisova. Kafka, que escreveu seus romances em alemão, é pouco conhecido em sua terra natal. Também foi entrevistada a professora da UFF e tradutora de Kafka, Susana Kampff Lages, dessa vez por Edney Silvestre no Rio de Janeiro. Susana participa de um atlas internacional sobre o escritor tcheco. O projeto pretende reunir informações e artigos sobre a recepção da obra kafkiana em todo o mundo.
De acordo com reportagem da Agência EFE, publicada em 1º de outubro de 2015, “muitos estudiosos de Kafka interpretaram sua transformação como uma metáfora sobre o peso insuportável da responsabilidade”. Marketa Malisova chancela esta interpretação: "Kafka a escreveu sob a influência de todas as circunstâncias que lhe afetavam. O sentido de A Metamorfose foi válido há 500 anos e será válido dentro de mil", comentou. “Com o tempo, esta obra que reflete, de certa forma a experiência vital do autor, se transformou em seu romance mais conhecido”.
Na mesma matéria, seu biógrafo tcheco, o filólogo Josef Cermak, declara que “Kafka nunca foi profeta em sua terra e que suas primeiras traduções foram realizadas por intelectuais de tendência anarquista, o que criou a ideia de que era um autor revolucionário”.Com a instauração comunista após a guerra, a obra de Kafka foi proibida, por ser considerado um escritor reacionário.
Mesmo quem nunca leu Kafka já ouviu o adjetivo "kafkiano". A palavra pode resumir a perplexidade diante do bizarro. A expressão surgiu com Franz Kafka, pois o escritor descrevia situações absurdas como se narrasse algo banal.
A narrativa começa com a descrição da transformação de Gregor em inseto. Dois parágrafos depois, a metamorfose já não o angustia, pois ele se preocupava mais com o atraso no trabalho do que com a nova aparência. A frieza chocante faz parte do estilo de Kafka, que narra o insólito e o torna o impossível provável.
Em algumas obras, Kafka humaniza os animais, como ratos e macacos. Mas o desconhecido inseto de A Metamorfose é a figura mais obscura. Em que exatamente o protagonista se transforma? A palavra em alemão descreve bichos, sobretudo de seis patas. Há pistas, mas nada permite afirmar qual o tipo de inseto.
Gregor Samsa se transformara em um inseto que poderia ser uma imagem interior de si mesmo. Tanto que o título em alemão é "A Transformação". A tradução como metamorfose não agradou ao escritor tcheco. A metamorfose seria a metáfora da humilhação de um personagem submisso. Um homem que aceitou passivamente virar do avesso, se transformar em alguém que ele não queria ser.
As tentativas de adaptação à nova situação deixam os personagens frustrados, aumentado sua agonia. Mas o próprio Kafka percebeu o mundo assim, uma vez que Praga pertencia ao Império Austro-Húngaro. Sua cidade natal era dividida em três grupos: alemães, a minoria que dirigia o país; judeus, em geral com acesso à cultura; e os tchecos, a base da sociedade.
Uma divisão nítida em Praga, mas não em Kafka. Era um judeu, de cidadania austro-húngara, nascido em território tcheco e se expressava em alemão. Sentia-se um estranho, um "convidado no planeta”. Questionava tudo: “o que tenho eu em comum com o judaísmo? Mal chego a ter algo em comum comigo mesmo."
"Era uma briga entre o advogado, o burocrata e o escritor. A sociedade e o Estado exigiam que o homem tivesse um bom salário e um bom emprego. Ele devia levar dinheiro para a família. Mas para Kafka isso não era o mais importante. Escrever era o mais importante", explica Marketa Malisova.
Em Carta ao pai, pode-se ver que o pai expansivo e autoritário deixou pouco espaço para o filho. A grande figura paterna levou Kafka a um mutismo quase total dentro de casa. Isso fez com que ele aliviasse seus conflitos nos papéis. Essa carta é interpretada pelo próprio autor com “de advogado”, mas, além de seu caráter literário, ela apresenta elementos autobiográficos.
Seus escritos resultaram em uma obra bem mais autobiográfica do que a média. O período em que trabalhou em uma empresa de seguros foi matéria-prima para muitos romances. O sentimento do advogado Kafka era o mesmo do caixeiro-viajante de A Metamorfose: inadequação e sensação de perda de tempo. Ele queria ser completamente livre para poder escrever. "Tudo o que não é literatura me aborrece. Eu odeio até as conversas sobre literatura.", escreveu Kafka.
Kafka não se rendia a qualquer atividade que não fosse a sua vocação para a escrita. Em sua vida particular, noivou e desfez o noivado por duas vezes, além disso, cultivava romances impossíveis, com regras que ele mesmo criava. O autor forjou um exílio interior que o afastava de todos. Em agosto de 1917, foi diagnosticado com tuberculose.
“Não há nada mais kafkaniano que um escritor reverenciado no mundo não ter o mesmo prestígio onde nasceu”, declara Verdova. “Ele tinha um estilo muito metafórico e simbólico. Era muito particular. Às vezes, você lê coisas em que não acredita. Ao mesmo tempo, você pode comparar. Ele tem um estilo muito especial, muito simples, muito claro", afirma Malisova.
Educado em um liceu alemão, língua da mãe, optou por se expressar assim. A escolha incomodou os nacionalistas, que somente muitos anos depois se reconciliam com Kafka. Uma homenagem em Praga lembra o pesadelo recorrente do escritor: sentia-se perseguido por um monstro sem cabeça e mãos. A escultura sugere que Kafka dominou tudo aquilo que o perturbava.

O duplo na literatura
A questão do duplo atrai, por séculos, atenção de diversos teóricos e pesquisadores de vários campos do saber como a psicanálise, a filosofia, e estudos literários. Na literatura, ele se destaca por meio dos movimentos literários e por entre os gêneros, com destaque para a  literatura fantástica, assim como para as imitações elaboradas com os gêneros do estranho e do maravilhoso, e seus subgêneros híbridos, aqueles gêneros que possuem características de mais de um gênero, como a crônica, por exemplo, que tem características do texto informativo e do texto literário.
Segundo Lima (2014), a presença do duplo na literatura pode implicar em uma dimensão de fusão das características encontradas na figura do outro, ou gerar uma cisão. “A ideia de uma metamorfose também se encontra muitas vezes atrelada ao duplo: tornar-se algo, o processo de encontrar em si algo de estranho e familiar, de estrangeiro, catalisado pelo outro”.
De acordo com Lima (2014), “é de uma animalidade que fala diretamente ao humano que fala Kafka. A dimensão de um automatismo, de uma humanidade fadada a uma espécie de perda, de torção da própria humanidade em si mesma. Kafka nos esclarece sobre aquilo que há de animal, de inumano e bestial no seio de nossa própria humanidade familiar”. Em suas obras, o mundo animal é mais do que uma metáfora cômica. Na inserção de animais, o mais interessante é que eles ocupam um papel duplo, como se falassem tanto como a voz interior de Kafka, quanto como a voz dos próprios personagens.

Outras leituras
De acordo com Beatriz Hübner, A Metamorfose é uma história que retrata a indiferença do homem perante o absurdo do mundo. O ponto culminante da obra é quando Gregor deixa de ser capaz de se expressar na linguagem humana e assim de se comunicar.   Mas sua metamorfose segue além da modificação física e cognitiva: exilado em seu silêncio, seus pensamentos e sentimentos continuam sendo humanos. A leitura da obra instiga sensações e impressões variadas que, mesmo depois de concluída, várias perguntas permanecem sem resposta e muitas lacunas precisam ser preenchidas.
Em seu ensaio O Estranho, Freud se propõe a investigar as condições que promovem o aparecimento do estranhamento, considerando-as como fatores básicos de retorno de um conteúdo reprimido, qualquer que fosse seu afeto original. O que era conhecido e deveria ter permanecido oculto, aflorou-se. Adorno (1998) veria nesse mesmo fenômeno uma forma de não se conciliar com o mundo da mercadoria. Platão já havia observado o estranhamento. O filósofo considerava a arte não apenas algo feito para encantar os sentidos, mas como formadora de caráter, com o objetivo de ensinar o homem a pensar.
“A escrita literária de Kafka, por ser protocolar, é marcada por seu tom desapegado, imparcial e impessoal, atentando ao menor detalhe e abrangendo os temas de alienação e perseguição, sendo a culpa o motor constante” (Anders, 1969).
O trabalho é uma questão relevante para análise. Gregor era sugado pela família, mas após o incidente, é ele que passa a ser o parasita da família, o que ensejou o desabrochar laboral da família (Benjamin,1996). De forma que, tanto o capitalista quanto o marxista pode apontar a questão do trabalho como tema central da obra.
Segundo Hübner, sua transformação poderia ser simbólica, uma metáfora para representar alguma deficiência que geraria preconceitos. Poderia, ainda, representar uma súbita mudança de postura diante da vida, de ideias e pensamentos.
Outro ponto relevante a destacar, de acordo com Hübner, é a maçã que, biblicamente é fruto do conhecimento do bem e do mal, e pode sugerir algumas analogias, como a expulsão de Gregor de seu “paraíso” de ilusão e engano. A questão do número 3 também pode ser colocada. Segundo Nabokov (1986), há três quartos na casa, três portas no quarto de Gregor, Kafka nasceu no dia três, escreveu três cartas ao seu pai, tinha três irmãs e cresceu sob a influência de três culturas. A trindade é um símbolo místico, religioso e cabalístico. Infelizmente, não há como saber o que Kafka queria dizer aos seus leitores sobre esse número.

Considerações finais
Pode-se inferir, a partir da leitura do livro e das análises pesquisadas, que há várias leituras possíveis para uma obra bastante complexa e que já conta 100 anos de existência.
A meu ver, a transformação do personagem acontece em seu interior, tendo em vista que Gregor se sentia bastante insatisfeito com sua vida, principalmente em relação ao seu trabalho. Um inseto é um animal pequeno do qual ninguém gosta, e por se sentir diminuído diante da grandiosidade das responsabilidades que se vê obrigado a executar durante muitos anos, a transformação poderia fazer com que seus familiares lhe dessem mais atenção e valor. Ele poderia ganhar liberdade para fazer o que achasse mais conveniente e lhe desse mais prazer em viver.
Como não poderia ser mais explorado tanto pela família quanto pelo patrão, ele se vê abandonado por ambos, fato que o conduz à morte. Mas a morte é do inseto que se encontra em seu interior. Ele pode, portanto, ter renascido como homem. Há, inclusive, já no final do relato, a passagem em que a irmã diz que precisam ficar livre dele, sem pronunciar seu nome. Ela fala que aquele monstro não é o seu irmão, pois se fosse ele, de acordo com sua personalidade, já teria ido embora para não causar transtornos à família.
O uso de metáforas em sua obra pode sugerir uma opção do autor em não se expor. Utilizar suas narrativas como uma válvula de escape aos diversos transtornos ocorridos em sua vida era algo urgente e necessário, mas que não precisava ser revelado.
Por se tratar de uma obra de ficção, e considerando o estilo metafórico e simbólico de Kafka, pode ser feita uma leitura em que caiba a transformação como algo que se possa acreditar. E a partir da construção desse sentido, ao desfecho caberão outras interpretações.

REFERÊNCIAS

Agência EFE Brasil. A Metamorfose de Kafka completa 100 anos ignorada na República Tcheca. Disponível em <  http://www.efe.com/efe/brasil/cultura/a-metamorfose-de-kafka-completa-100-anos-ignorada-na-republica-tcheca/50000241-2727552> visitado em 3 mar 2016.

ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

HÜBNER, Beatriz. Franz Kafka, A metamorfose: possíveis leituras. Disponível em < filologia.org.br/iiijnlflp/textos_completos/pdf/Franz%20kafka,%20a%20metamorfose%20–%20possíveis%20leituras%20-%20BEATRIZ.pdf > visitado em 5 mar 2016.

KAFKA, Fanz. A metamorfose. Tradução de Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

KAFKA, Fanz. Carta ao pai. Tradução de Marcelo Backes. Porto Alegre: L&PM, 2013.

LIMA, Rita Isadora Pessoa Soares de. O duplo inesperado: uma análise contrastante do duplo velado e incidental na literatura (Tese de Doutorado/UFF/Orientadora: Susana Kampff Lages).  Anais do V Seminário dos Alunos dos Programas de Pós-Graduação do Instituto de Letras, Estudos de Literatura, UFF, nº 1, 2014. Disponível em < www.anaisdosappil.uff.br/index.php/VSAPPIL-Lit/article/view/215 > visitado em 29 fev 2016.

TODOROV, Tzvetan. Simbolismo e interpretação. Tradução de Nícia Adan Bonatti. São Paulo: Editora Unesp, 2014.

VERDOVA, Pedro. A metamorfose, de Franz Kafka, completa 100 anos. Disponível em < g1.globo.com/globo-news/noticia/2015/11/metamorfose-de-franz-kafka-completa-100-anos.html > visitado em 29 fev 2016.



O mercador de Veneza: comparação livro e filme


A peça O Mercador de Veneza, de William Shakespeare, escrita no século XVI, será comparada, neste trabalho, ao filme homônimo, dirigido por Michael Radford em 2004. O tema das obras é o pagamento de uma dívida, contraída por Antônio, um cristão, a Shylock, um judeu. Essa dívida deveria ser quitada no período de dois meses e, se isso não acontecesse, Antônio pagaria como multa uma libra de sua carne. Essa estratégia foi utilizada pelo judeu para se vingar, uma vez que sempre fora maltratado por Antônio. Naquela época os judeus não podiam adquirir propriedades, por isso eles emprestavam dinheiro cobrando juros altos. Essa atividade causava repugnância aos cristãos habitantes de Veneza.
O empréstimo foi feito por Antônio, uma vez que ele não tinha dinheiro porque seus navios ainda não haviam retornado do mar, para ajudar seu amigo Bassânio, um jovem pródigo com sua fortuna que tinha urgência em viajar até Belmonte para se casar com Pórcia, filha de um homem bom e rico. Esse homem, mesmo morto,desejou interferir no destino da filha, deixando-lhe três caixas - uma de ouro, representando a ambição; outra de prata, o mérito e, por fim uma de chumbo, simbolizando o risco, e caberia ao pretendente mais inteligente e despretensioso encontrar o retrato da filha dentro de uma das caixas e se casar com ela. Já apaixonada por Bassânio, Pórcia sinaliza-lhe como escolher a caixa certa entoando uma canção com sons de sinos badalando com força (bronze, ferro ou chumbo!).
Na data marcada para o pagamento da dívida, os navios ainda não haviam chegado a Veneza, e Antônio não pôde cumprir o seu compromisso junto a Shylock. Em vista disso, o julgamento foi providenciado. Nesse dia, Shylock justifica a sua vingança por meio de um discurso de igualdade entre os homens, em que tanto os cristãos quanto os judeus são seres humanos, sujeitos a erros e acertos. Ele conclui que se os cristãos podem ser pessoas más e vingativas, os judeus também podem ser assim. Esse raciocínio em defesa da vingança é falso, tendo em vista que Shylock não poderia generalizar com argumentos envolvendo toda a humanidade a partir de suas experiências e observações particulares. Ao ser questionado sobre o que faria com a carne, ele explica que ela não teria muita serventia, senão para ser usada como isca em pescaria, mas que ela alimentaria sua vingança. Shylock estava bastante exaltado também porque Jéssica, sua filha, havia fugido com um cristão e levado grande parte de sua fortuna.
Durante o julgamento, Pórcia e Nerissa se apresentam ao Doge como juiz e assistente, respectivamente. Elas se vestem com roupas masculinas, porque somente os homens tinham o poder das palavras e das leis. Dessa forma Pórcia colabora para o desfecho jurídico, valendo-se do poder da lei e de suas argumentações, alterando toda a situação.
Como toda obra literária, o autor trabalha com o simbólico, com a subjetividade, relação marcada pela contradição que todo ser mantém com o outro. O judeu Shylock e o cristão Antônio se relacionam por conveniência; Pórcia e Bassânio assumem o papel de mulher determinada e homem frágil e imaturo; Jéssica se divide entre o ódio de ter o sangue judeu herdado do pai e o amor proibido por um cristão.
Livro e filme trazem reflexões acerca de valores humanos, as lutas entre o bem e o mal, o justo e o injusto, sendo irrelevante se são cristãos ou judeus. Tratam, ainda, de elementos espirituais como da insignificância da carne humana, da precariedade da vida terrena e do sentimento de que viver significa arriscar-se.Em ambas as obras, há realce de sentimentos negativos como a tristeza, a solidão, o preconceito, mas, principalmente, a clemência, esta com o intuito de chamar a atenção sobre a justiça divina.
De acordo com a socióloga Cristina Costa[1], as transformações do Renascimento, época em que o individualismo era estimulado e o homem assume seu papel na história como agente dos acontecimentos, se expressaram na arte e trouxeram aos personagens de Shakespeare “as dificuldades humanas diante de sentimentos contraditórios e da liberdade de ação”. Segundo a autora, em Romeu e Julieta,,há um conflito entre o indivíduo e a sociedade, uma vez que o drama dos amantes de Verona decorre da oposição entre as regras sociais vigentes e a vontade individual dos heróis”.
Tanto a peça quanto a película divisam duas premissas, a legalidade e a justiça. A partir dessas premissas, pode-se inferir que o poder da lei é maior que o da justiça, fato universal e presente em nossos dias. Constata-se, ainda, que as leis são feitas pelos homens e, portanto, imperfeitas, enquanto a justiça é divina, sujeita aos desígnios de Deus, ser superior. De acordo com o professor Hans Kelsen[2], “a tarefa que consiste em obter, a partir da lei, a única sentença justa (certa) ou o único ato administrativo correto é, no essencial, idêntica à tarefa de quem se proponha, nos quadros da Constituição, criar as únicas leis justas (certas). Assim como da Constituição, através de interpretação, não podemos extrair as únicas leis corretas, tampouco podemos, a partir da lei, por interpretação, obter as únicas sentenças corretas”. Sobre justiça cabe ressaltar opinião do também professor Chaïm Perelman[3], “[...] para que a pesagem (ato de distribuir justiça) seja feita de modo imparcial, desprovido de paixão – o que quer dizer sem temor, sem ódio e também sem piedade -, é necessário que a justiça tenha os olhos vendados, que não veja as consequências do que faz: dura Lex, sed Lex”.
Além de tratar das questões sobre valores e justiça, pode-se ampliar a comparação entre as obras, destacando-se algumas  (Há pequenas diferenças como sexualidade, tempo, o papel da mulher, a condição dos judeus, entre outros. Enquanto na tela a homossexualidade de Antônio e Bassânio é explícita, no livro, ela é sugerida. No filme, é feita uma contextualização da situação dos judeus, situando o espectador  historicamente. Informa-se que os judeus deveriam viver separados dos cristãos e usar uma boina vermelha para serem reconhecidos nas ruas. Em sua obra, Shakespeare narra apenas o fato de que os judeus são a escória da sociedade.
A questão do tempo não é coerente em nenhuma das artes, entretanto no teatro, por ser ao vivo, a passagem do tempo não traz estranhamento para a plateia, uma vez que cenas se sucedem, mudam-se os cenários e a obra pode ser compreendida. Essa compreensão acompanha também a leitura da peça. Com a intenção de se manter fiel ao texto, o filme apresenta situações desconexas, tendo em vista que a linguagem cinematográfica tem seus limites quando se trata de fazer adaptação de alguma obra literária.  As distâncias, por exemplo, chamam a atenção, porque os mesmos espaços são percorridos em tempos diferentes. O escritor Umberto Eco[4] fala sobre as duas linguagens e explica que “Também no filme, às vezes mais do que no romance, existem os “vazios” das coisas não ditas (ou não mostradas) que o espectador tem de preencher se quiser dar sentido à história. Aliás, se um romance pode ter páginas à disposição para tracejar a psicologia de uma personagem, o filme, não raro, tem de limitar-se a um gesto, a uma fugaz expressão do rosto, a uma fala de diálogo.”
O dramaturgo e o diretor realçam a inteligência e determinação de Pórcia, o que faz dela a heroína desta história. Ao direcionar a escolha da caixa certa, prova-se se tratar de uma mulher de caráter forte, que dissimula ser a escolhida quando na verdade a decisão é dela, fato sutilmente elaborado por Pórcia, não caracterizando traição aos desejos do pai. E ainda, é dela a iniciativa de ir a Veneza e defender Antônio no julgamento. No livro apreendemos sua personalidade por meio de suas atitudes e pensamentos, enquanto no filme contamos com os seus olhares.
Os recursos utilizados pelo autor de um livro e pelo diretor de um filme para delinear a personalidade de seus personagens são, com certeza, diferentes. Shakespeare O autor faz malabarismos com seus personagens, utilizando máscaras de todas as formas, para mostrar o grande jogo de aparências e hipocrisia existente naquela sociedade. Esse jogo pode ser visto também no cinema. Na tela, como as máscaras são visíveis, tem-se a impressão de que são alegorias, como as utilizadas em festas à fantasia ou nos carnavais.
As análises aqui apresentadas com certeza não abrangem a magnitude desta obra, considerando-se a grandiosidade de seu autor, que deixa na superfície do texto uma tragédia não consumada e nas entrelinhas uma gama de reflexões, críticas, paixões e valores inseridos no ser humano desde sempre. Michael Radford fez uma boa leitura, pois tal como a peça, ele também deixa lacunas para serem preenchidas pelo espectador.

REFERÊNCIAS
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3ª Ed. São Paulo: Moderna, 2005.
ECO, Umberto. A diferença entre livro e filme. Entrelivros, São Paulo, n. 7, p.98, nov. 2005.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 7ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
PERELMAN, Chaïm. Lógica Jurídica: nova retórica. São Paulo; Martins Fontes, 1998.
RADFORD, Michael. O mercador de Veneza. Califórnia Filmes, 2004.
SHAKESPEARE, William. O mercador de Veneza. São Paulo: Martin Claret, 2006.





[1] Costa, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade, 2005, p.30 e 39.
[2] Kelsen, Hans. Teoria pura do Direito, 2006, p.393
[3] Perelman, Chaïm. Lógica Jurídica: nova retórica, 1998, p.33
[4] A diferença entre livro e filme, publicado na revista EntreLivros em novembro de 2005, p.98

A REFORMA POLÍTICA E O INCONSEQUENTE PODER


Este é o artigo publicado na revista Literatura/conhecimento prático

Com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, a Alemanha se reunificava e o fim da guerra fria se iniciava. O processo que levou à derrubada do muro durou 30 dias e ocorreu sem violência. Hoje, o país liderado pela presidente Angela Merkel (que veio da antiga Alemanha Oriental), é visto como o líder do continente, especialmente pela forma como reagiu à crise econômica de 2008 e à crise do euro.
Considerando-se que foi possível um muro ser derrubado e uma reforma política deflagrada, instaurando-se uma democracia, e que durante 28 anos esse muro (imagem concreta de uma política separatista) manteve afastadas famílias, parentes e amigos, dividiu ideologias e, relegou a população oriental à estagnação econômica, questiona-se como poderá a reforma política que se vislumbra em nosso país fazer com que os brasileiros voltem a confiar em seus políticos? Se essa reforma se propõe a modificar a legislação eleitoral, a fim de frear a corrupção hoje enraizada em órgãos públicos e particulares, conseguirá atingir suas metas, tendo em vista que a corrupção é realizada por homens acostumados a trapacear desde tempos remotos?
Naquele mesmo ano de 1989, o Brasil realizava sua primeira eleição direta para presidente depois da ditadura. O sonho de um país democrático se realizava, a esperança se estampava nos rostos das pessoas, mas muitos governos transformaram os sonhos em pesadelos. É certo que muita coisa mudou para melhor, mas, infelizmente, a corrupção veio à tona, e a cada dia o descontentamento aumenta.
A reforma política é, sem dúvida, necessária e urgente. Pode-se verificar essa urgência nos fatos expostos no livro “O nobre deputado”, do juiz de Direito, Márlon Reis. O deputado-personagem expõe abertamente o esquema da corrupção no país. Sobre eleições, ele declara que “A política é movida a dinheiro, poder e vaidade. Dinheiro compra poder, e poder é uma ferramenta poderosa para se obter dinheiro.” Sobre a compra de votos: “Sei que em alguns lugares o esquema é sofisticado, cheio de meandros e mecanismos para mascarar a milenar prática da corrupção. Para levantar dinheiro, vale fraudar licitações, desviar verbas indenizatórias, instrumentalizar os convênios (...)”. Sobre ideologia: “No passado, já houve uma parte significativa da classe política que chegava ao mandato em virtude do seu prestígio e de outros valores mais nobres. Hoje a liderança é a força do dinheiro”.
O desvio de verbas públicas gera a falta de recursos que seriam destinados à educação, saúde e segurança. Tudo isso acarreta péssimas condições de vida para boa parte da população, além de instabilidade econômica para o país, de modo geral. Essa situação, inclusive, pode ser uma das causas do tráfico de drogas, uma vez que, não havendo investimento e controle governamental, grupos se formam para dominar a juventude carente de esperanças no futuro próximo, governada por instituições ineficientes.
Segundo o antropólogo e escritor Roberto DaMatta, “alimentar os famintos, vestir os nus, dar abrigo aos sem-teto são as palavras mágicas dessa cosmologia política pervertida (...)”. E completa que, “(...), nada disso ocorre, exceto a utopia de enricar sem fazer nada — apenas governando e politicando: vendo onde, quando e quanto se pode tirar sem dolo, culpa ou remorso porque o dinheiro era do lucro e o lucro, como na Idade Média, é roubo e pecado. E quem rouba o ladrão tem mil anos de perdão…”
Modificar esse esquema viciado é o que propõe a Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas. A Coalizão é uma iniciativa de entidades, organizações e movimentos que se uniram para apresentar à sociedade uma proposta de Reforma Política Democrática e realizar uma campanha unificada pela sua efetivação. Entre suas propostas, destaca o fim do financiamento empresarial de campanha, considerado a raiz da corrupção..
Muita coisa mudou desde 1989, por isso muitas regras que regem a Constituição precisam ser revistas, e uma das questões mais relevantes é a reforma política. A partir dela, outras virão para garantir a democracia conquistada. O fato de José Saramago ter sido um grande questionador da democracia, e fez, em seu livro “Ensaio sobre a lucidez”, uma censura aberta ao sistema capitalista e aos seus governos que, em nome da democracia, cometem atos arbitrários, ilegítimos e antidemocráticos, mostra-nos quantas lutas ainda deveremos abraçar. Argumentos pró e contra a democracia, o governo e a reforma não faltam, e são bem-vindos.

Salve Drummond! Há uma pedra no meio do caminho. Se ela for mais leve que um muro, poderá ser removida. Se alguma planta a envolver e criar nela raízes profundas, ainda assim nos resta a esperança de que muitas mãos unidas consigam retirar pelo menos a pedra, se não for possível retirar as raízes. Há pedras no caminho que podem reconstruir um sonho esquecido.