O romance O
estrangeiro, de Albert Camus, narra uma história bastante concisa e sob a
perspectiva existencialista, proposta filosófica, que valoriza os sentimentos
dos personagens e coloca em oposição valores impostos por uma sociedade cruel,
fria, e que não respeitava a dignidade do cidadão. A Grande Depressão, a
Segunda Grande Guerra e o descobrimento da bomba atômica são fatos que
influenciaram a obra de Camus. Ele acreditava que o que de mais trágico existia
na condição humana era o absurdo, o limite entre aspirações e realidade.
O personagem principal é Meursault, um jovem escriturário,
um homem comum. Ele não possui ambições e demonstra pouca empatia social.
Contenta-se com prazeres imediatos. Sua indiferença para com o mundo se
expressa na frase, várias vezes repetida: “Tanto faz”. Ter uma posição melhor
no trabalho, casar com uma mulher, sem a amar, apenas para deixá-la feliz,
perder a mãe, não fazia muita diferença, uma vez que mais dia, menos dia, as
coisas aconteciam independentes da nossa vontade.
Surge o inesperado. Meursault assassina um árabe em um dia
de sol muito quente, em uma praia. Ele não sabe explicar o motivo desse seu
ato. Camus, provavelmente, realçou o fato da personagem ter matado um árabe,
visto que a maior parte da população da Argélia era de árabes, enquanto os
franceses controlavam o país. Meursault, por não ser árabe, era um estrangeiro
no lugar onde vivia.
Na prisão, ele procura nas suas lembranças uma forma de
driblar a monotonia das intermináveis horas de solidão, em que o tempo escoa
idêntico a cada dia. Mas, apesar de toda a sua indiferença, ele deseja voltar a
ser livre para poder nadar, ir à praia, encontrar-se com Marie.
Em suas reflexões, mesmo antes de ser preso, ele conclui
que o homem se habitua a tudo na vida, principalmente às perdas. Em várias
passagens do livro ele se refere ao ato de habituar
como uma forma de viver. A maior dificuldade era se habituar à perda da sua
liberdade de ir e vir.
“Todos sabem que
a vida não vale a pena ser vivida. No fundo, ignorava que morrer aos trinta ou
aos setenta anos tanto faz, pois em qualquer dos casos outros homens e mulheres
viverão, e isso durante milhares de anos. No fim das contas, isso era claro
como água, hoje ou daqui a vinte anos, era o mesmo eu quem morria”.
O livro faz também uma crítica ao sistema judiciário,
mostrando como os advogados e promotores manipulam a verdade. No caso de
Meursalt, durante seu julgamento eles fazem com que o réu se torne um mero
espectador de seu destino. E ainda levantam outras questões de sua vida, em que
sua apatia tomava a forma de um crime. Como em um teatro de absurdos, o seu
verdadeiro crime perde a relevância. Por fim, ele é condenado à morte.
Em toda a narrativa, a paisagem mostra uma cidade muito
quente, ensolarada, areia, mar e muita luz. Essa paisagem parece estar
associada à natureza de Meursalt. Ele seria um estrangeiro, vindo de um lugar em
que o clima era bem diferente, e vivia em um cenário onde a luz e o calor do
sol desnorteia o homem, não havia sombras. Por ironia, os seres humanos criavam
suas próprias sombras.
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