quarta-feira, 20 de junho de 2012

O estrangeiro


O romance O estrangeiro, de Albert Camus, narra uma história bastante concisa e sob a perspectiva existencialista, proposta filosófica, que valoriza os sentimentos dos personagens e coloca em oposição valores impostos por uma sociedade cruel, fria, e que não respeitava a dignidade do cidadão. A Grande Depressão, a Segunda Grande Guerra e o descobrimento da bomba atômica são fatos que influenciaram a obra de Camus. Ele acreditava que o que de mais trágico existia na condição humana era o absurdo, o limite entre aspirações e realidade.

O personagem principal é Meursault, um jovem escriturário, um homem comum. Ele não possui ambições e demonstra pouca empatia social. Contenta-se com prazeres imediatos. Sua indiferença para com o mundo se expressa na frase, várias vezes repetida: “Tanto faz”. Ter uma posição melhor no trabalho, casar com uma mulher, sem a amar, apenas para deixá-la feliz, perder a mãe, não fazia muita diferença, uma vez que mais dia, menos dia, as coisas aconteciam independentes da nossa vontade.

Surge o inesperado. Meursault assassina um árabe em um dia de sol muito quente, em uma praia. Ele não sabe explicar o motivo desse seu ato. Camus, provavelmente, realçou o fato da personagem ter matado um árabe, visto que a maior parte da população da Argélia era de árabes, enquanto os franceses controlavam o país. Meursault, por não ser árabe, era um estrangeiro no lugar onde vivia.

Na prisão, ele procura nas suas lembranças uma forma de driblar a monotonia das intermináveis horas de solidão, em que o tempo escoa idêntico a cada dia. Mas, apesar de toda a sua indiferença, ele deseja voltar a ser livre para poder nadar, ir à praia, encontrar-se com Marie.

Em suas reflexões, mesmo antes de ser preso, ele conclui que o homem se habitua a tudo na vida, principalmente às perdas. Em várias passagens do livro ele se refere ao ato de habituar como uma forma de viver. A maior dificuldade era se habituar à perda da sua liberdade de ir e vir.

“Todos sabem que a vida não vale a pena ser vivida. No fundo, ignorava que morrer aos trinta ou aos setenta anos tanto faz, pois em qualquer dos casos outros homens e mulheres viverão, e isso durante milhares de anos. No fim das contas, isso era claro como água, hoje ou daqui a vinte anos, era o mesmo eu quem morria”.

O livro faz também uma crítica ao sistema judiciário, mostrando como os advogados e promotores manipulam a verdade. No caso de Meursalt, durante seu julgamento eles fazem com que o réu se torne um mero espectador de seu destino. E ainda levantam outras questões de sua vida, em que sua apatia tomava a forma de um crime. Como em um teatro de absurdos, o seu verdadeiro crime perde a relevância. Por fim, ele é condenado à morte.

Em toda a narrativa, a paisagem mostra uma cidade muito quente, ensolarada, areia, mar e muita luz. Essa paisagem parece estar associada à natureza de Meursalt. Ele seria um estrangeiro, vindo de um lugar em que o clima era bem diferente, e vivia em um cenário onde a luz e o calor do sol desnorteia o homem, não havia sombras. Por ironia, os seres humanos criavam suas próprias sombras.

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