Tropical sol da liberdade, de Ana Maria Machado, é um romance
histórico, político e psicológico, pois traz para o leitor experiências e
notícias de fatos marcantes dos anos da ditadura militar. Tudo isso a partir de
uma visão feminina, uma vez que a protagonista é uma jornalista, Lena, com suas
lembranças da infância e juventude, ao lado da família e de amigos.
Helena é uma mulher muito
independente, desde criança gostava de tomar suas próprias decisões. Em um dado
momento precisa de ajuda da mãe, por motivos de saúde. Essa atitude é muito
difícil para ela, uma vez que seu relacionamento com a mãe nunca foi dos mais
gratificantes. No entanto, com o passar dos dias ao lado da mãe, ela compreende
os motivos das decisões tomadas por sua mãe durante a vida, pois tudo era feito
com amor e, como todas as mães, ela sempre fizera o que achava importante para
a felicidade e bem estar dos filhos.
Nas recordações de Lena, o avô ocupa
um lugar de destaque, como uma figura muito marcante em sua vida. Ele mostrava
a ela a simplicidade da sabedoria da natureza. As árvores desfolhavam no outono
para economizar energia, que dispensaria à fotossíntese, para sobreviver ao
inverno e renascer na primavera, com folhas novas e flores. Essa lembrança fez
com que ela se sentisse como aquela árvore, pois naquele momento Lena se
encontrava desfolhada, triste por suas perdas recentes, mas, diferente da
árvore, ela ainda não via que logo viria sua primavera, e se poderia se renovar
em novas folhas e flores.
A narração incorpora o modo de
falar ou pensar do narrador, em uma linguagem que reflete sua condição social.
Por meio dos diálogos percebemos onde os personagens moram, e as gírias sinalizam
a época em que os fatos acontecem.
A autora, antes de cada capítulo,
cita um poema ou parte de uma melodia. É como um diálogo com autores como
Drummond, Vinícius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Caetano Veloso,
Gilberto Gil, Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro e Paulinho da Viola. Esse
recurso, também encontrado dentro da narrativa, mostra que os personagens são
pessoas de classe média e intelectuais, e ainda, contextualizam o período em
que os fatos ocorreram, uma vez que são versos alusivos à pátria, ao exílio ou
a questões de natureza existencial: “Falo
somente para quem falo:/ quem padece sono de morto/e precisa um
despertador/acre, com o sol sobre o olho:/que é quando o sol é estridente,/a
contrapelo, imperioso,/e bate nas pálpebras como/se bate numa porta a socos”
(João Cabral de Melo Neto); “Você corta
um verso/eu escrevo outro/você me prende vivo/eu escapo morto/de repente olha
eu de novo/perturbando a paz/exigindo o troco”. (Maurício Tapajós e Paulo
César Pinheiro).
Há também algumas citações
bíblicas como “Debaixo do sol observei
ainda o seguinte: a injustiça ocupa o lugar do direito, e a iniqüidade ocupa o
lugar da justiça. Então eu disse comigo mesmo: “Deus julgará o justo e o ímpio,
porque há tempo para todas as coisas e tempo para toda obra” (Eclesiastes,
3:16-17).
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