segunda-feira, 1 de abril de 2013

A história da Aia


A História da Aia, ou O Conto da Aia, como trazem algumas traduções, de Margaret Atwood, é livro que inquieta, encanta, surpreende ou mesmo assombra. O tema é a humanidade em perigo, em que um regime fundamentalista e patriarcal toma o poder.

Na Republica de Gilead, outrora EUA, num futuro próximo, literatura, arte, direitos, escolhas, pensamentos, quase tudo se tornou proibido. Um muro exibe os corpos dos pecadores, condenados que servem de aviso a todos. E nessa sociedade, as mulheres estão divididas em castas e categorias bem definidas: aias, esposas, martas, tias, antimulheres. E no absurdo dos sistemas totalitários, de controle e nos jogos de poder, o lícito ou proibido é extremamente relativo.

Aias são mulheres férteis cuja única função é procriar. E por serem valiosas, o domínio tenta se estender não somente ao corpo, mas à mente dessas mulheres. Mas se falharem, podem ser enviadas às colônias para recolher lixo radioativo, ou, dependendo da transgressão, enforcadas e penduradas no muro. São também guerreiras, lutando para simplesmente, sobreviver.

Todas as mulheres, de certa forma, são humilhadas. As esposas estão presentes no momento em que seus maridos praticam o ato sexual com as aias. Elas deitam com as pernas abertas e as aias deitam com a cabeça em suas barrigas, e dessa forma são possuídas pelos Comandantes.

O livro deixa algumas lacunas, que podem ser um recurso narrativo: a história nos é apresentada de um olhar. E ao olhar dessa narradora, nem tudo está claro, nem tudo é explicado. (resumi o texto de Tânia Souza, do blog alitfan – literatura fantástica)

Talvez nada disto tenha a ver com controle, talvez não tenha nada a ver com quem tem o direto de ser dono de quem, ou com quem pode fazer o quê com quem, impunemente – até matar. Talvez não tenha a ver com quem pode se sentar e quem deve se ajoelhar, ficar de pé ou deitar-se de pernas abertas. Talvez tenha a ver com quem pode fazer o quê, com quem, e ser perdoado por isto. Não venha me dizer que é tudo a mesma coisa.

Não queria estar contando esta história. (...) Não preciso contá-la. Não preciso contar nada, nem para mim nem para ninguém. Podia ficar aqui, sossegada. Podia me recolher. É possível se penetrar tão fundo, tão fundo, que ninguém mais nos tira de dentro de nós

Quero ser abraçada e chamada pelo meu nome. Quero ser valorizada de uma forma que não sou; quero ser mais do que simplesmente valiosa. Repito meu antigo nome e me lembro de tudo que um dia eu podia fazer, de como os outros me viam. Quero roubar alguma coisa.

Quando eu sair daqui, e se eu conseguir registrar isto de alguma forma, mesmo que seja na forma de uma voz falando a outra, também será uma reconstituição, mais ainda do que agora. É impossível contar algo exatamente do jeito que foi, pois o que se conta nunca poderá ser absolutamente exato, sempre é preciso deixar algo de lado: há partes, ângulos, variáveis, matizes demais; gestos demais, podendo significar isto ou aquilo; formas demais, que nunca poderão ser descritas em sua totalidade; sabores e aromas demais, no ar ou na língua; meios-tons em excesso.

Isso eu inventei. Não foi assim que aconteceu. O que aconteceu foi o seguinte: (...) Também não foi assim como aconteceu. Não tenho muita certeza, agora, de como aconteceu; não exatamente. Só posso confiar numa reconstrução.


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