segunda-feira, 1 de abril de 2013

Veia bailarina


Veia bailarina, de Ignácio de Loyola Brandão, conta com detalhes o descobrimento da sua doença até a chegada ao centro cirúrgico. Fala sobre “a dor, o medo, das nossas perdas de cada dia, as do varejo e aquelas acumuladas ao longo da vida, no atacado”.

Loyola chegou consciente ao centro cirúrgico, de acordo com os padrões para esse tipo de cirurgia. Após acordar certa manhã com tonteiras, até o diagnóstico final de aneurisma cerebral, com indicação cirúrgica e decisão de submeter-se a abertura do crânio, percorreu um longo caminho de sofrimentos.

De olhos fechados, esforçando-se para ouvir e não esquecer nada do que se passava no centro cirúrgico, percebeu quando uma enfermeira colocou o garrote em seu braço para a punção da veia necessária durante a cirurgia e para o pós-operatório imediato.

A partir desse momento essa veia iria se transformar na sua segurança. A experiente enfermeira, após algumas tentativas frustradas, pede auxílio a uma colega. Ao assumir o comando da ‘operação pega a veia’, fala em voz bem baixinha, mas percebida por Loyola: “- Ah! Está é a famosa veia bailarina!”. O escritor se encanta com a expressão desconhecida por ele. Até em um hospital era possível encontrar poesia. (Gabriel Neves)

Trechos retirados do blog do Torniquato:
“É fácil avaliar situações, depois que passaram. Tudo se agitava velozmente, não havia tempo para raciocínios claros, cabeça fria. Nada concreto. A diferença entre nós, os comuns, e os grandes homens está na capacidade de analisar friamente o real, encarar a situação, qualquer que seja, individual ou coletiva, e partir para a ação, remexer os problemas, decidir logo. Demoramos, rejeitamos, fugimos.
O que existe do outro lado? Mas nenhuma pessoa, entidade, livro, estudo me convence de que este espaço em que vivo não seja de fato o outro lado. Em Berlim Ocidental, referindo-se à Berlim Oriental, as pessoas diziam: O outro lado. Mas em Berlim Oriental, referiam-se à Berlim Ocidental também como o outro lado. Qual é o lado de cá e o de lá? Súbito, me veio intensa curiosidade. A de atravessar a fronteira e penetrar em outra dimensão desconhecida, sobre a qual nada sabemos.
Percebo que estou sorrindo. O implicante retornou. Se posso reclamar, se tudo isto me incomoda, perturba, é porque estou vivo. Melhor assim: estar puto com essas coisas todas porque está vivo! Percebo o pobre escritor que sou. Não consigo, de nenhum modo, colocar no papel a sensação que é viver. Talvez eu deva simplesmente… viver!”

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