Veia bailarina, de Ignácio de Loyola Brandão, conta
com detalhes o descobrimento da sua doença até a chegada ao centro cirúrgico.
Fala sobre “a dor, o medo, das nossas perdas de cada dia, as do varejo e
aquelas acumuladas ao longo da vida, no atacado”.
Loyola
chegou consciente ao centro cirúrgico, de acordo com os padrões para esse tipo
de cirurgia. Após acordar certa manhã com tonteiras, até o diagnóstico final de
aneurisma cerebral, com indicação cirúrgica e decisão de submeter-se a abertura
do crânio, percorreu um longo caminho de sofrimentos.
De olhos
fechados, esforçando-se para ouvir e não esquecer nada do que se passava no
centro cirúrgico, percebeu quando uma enfermeira colocou o garrote em seu braço
para a punção da veia necessária durante a cirurgia e para o pós-operatório
imediato.
A partir
desse momento essa veia iria se transformar na sua segurança. A experiente
enfermeira, após algumas tentativas frustradas, pede auxílio a uma
colega. Ao assumir o comando da ‘operação pega a veia’, fala em voz bem
baixinha, mas percebida por Loyola: “- Ah! Está é a famosa veia bailarina!”. O
escritor se encanta com a expressão desconhecida por ele. Até em um hospital
era possível encontrar poesia. (Gabriel Neves)
Trechos
retirados do blog do Torniquato:
“É fácil
avaliar situações, depois que passaram. Tudo se agitava velozmente, não havia
tempo para raciocínios claros, cabeça fria. Nada concreto. A diferença entre
nós, os comuns, e os grandes homens está na capacidade de analisar friamente o
real, encarar a situação, qualquer que seja, individual ou coletiva, e partir
para a ação, remexer os problemas, decidir logo. Demoramos, rejeitamos,
fugimos.
O que
existe do outro lado? Mas nenhuma pessoa, entidade, livro, estudo me convence
de que este espaço em que vivo não seja de fato o outro lado. Em Berlim
Ocidental, referindo-se à Berlim Oriental, as pessoas diziam: O outro lado. Mas
em Berlim Oriental, referiam-se à Berlim Ocidental também como o outro lado.
Qual é o lado de cá e o de lá? Súbito, me veio intensa curiosidade. A de atravessar
a fronteira e penetrar em outra dimensão desconhecida, sobre a qual nada
sabemos.
Percebo que
estou sorrindo. O implicante retornou. Se posso reclamar, se tudo isto me
incomoda, perturba, é porque estou vivo. Melhor assim: estar puto com essas
coisas todas porque está vivo! Percebo o pobre escritor que sou. Não consigo,
de nenhum modo, colocar no papel a sensação que é viver. Talvez eu deva
simplesmente… viver!”
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