quinta-feira, 31 de março de 2016

O IDIOMA DO PODER

Entrevista com o professor titular de linguística e semiótica da USP, Izidoro Blikstein.

Que político se expressa melhor, na sua opinião? Barack Obama, que tem repertório, fluência, é agradável e fala com um sorriso aberto.

Como avalia o discurso da presidente Dilma Rousseff? Ele tem sempre entonação de imposição, o que extingue o poder de persuasão. Quando ela lê discursos, separa o sujeito do verbo, cita frases pela metade, lê algo que acaba em outra página e, muitas vezes, nem percebe. Por alguma razão, a presidente Dilma não é capaz de fazer um plano mental de organização de ideias, faltam-lhe coesão e coerência. Pode haver aí uma questão de ordem psíquica, mas só mesmo um psiquiatra para avaliar.

De que outra personalidade o senhor elogiaria o discurso? Da atriz Denise Fraga. Ela fala pausadamente, transmite seu recado – ainda que não agrade a quem está ouvindo – sem arrogância, gesticula de forma amigável e, assim, envolve o outro.

Como fazer para convencer alguém apenas com a palavra? Não desconsidere uma pergunta indevida ou descabida. Não humilhe o outro. Outra dica é evitar o “eu acho”. Achismos não são nada. O contato visual também é importante, exceto em alguns países orientais, como o Japão, onde ele é considerado invasivo. No Brasil, passa empatia.

O que faz todo mundo cochilar ouvindo um discurso? Linguagem rebuscada, o que é diferente de linguagem erudita.

Quais são as frases certeiras para pedir um aumento? Uma pessoa que apresentou bons resultados no passado e ainda não teve aumento, para consegui-lo, deve buscar algum tipo de atualização ou de nova qualificação profissional e explicar ao chefe que gostaria de realizá-la com um incentivo financeiro. Falar que “gostaria de um plano de carreira” também é bom.

Pode dar três conselhos para falar bem em público? Organize as ideias de acordo com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie a apresentação. Fale de forma suave. Envolva a plateia com uma brincadeira, cite um filme ou até conte uma história pessoal que tenha a ver com o que será apresentado. Isso se chama, no nosso jargão, gancho.


Por Thaís Botelho – Veja de 30 de março de 2016. p.32

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