Entrevista com o professor
titular de linguística e semiótica da USP, Izidoro Blikstein.
Que político se expressa melhor, na sua opinião? Barack Obama, que
tem repertório, fluência, é agradável e fala com um sorriso aberto.
Como avalia o discurso da presidente Dilma Rousseff? Ele tem sempre
entonação de imposição, o que extingue o poder de persuasão. Quando ela lê
discursos, separa o sujeito do verbo, cita frases pela metade, lê algo que
acaba em outra página e, muitas vezes, nem percebe. Por alguma razão, a
presidente Dilma não é capaz de fazer um plano mental de organização de ideias,
faltam-lhe coesão e coerência. Pode haver aí uma questão de ordem psíquica, mas
só mesmo um psiquiatra para avaliar.
De que outra personalidade o senhor elogiaria o discurso? Da atriz
Denise Fraga. Ela fala pausadamente, transmite seu recado – ainda que não
agrade a quem está ouvindo – sem arrogância, gesticula de forma amigável e,
assim, envolve o outro.
Como fazer para convencer alguém apenas com a palavra? Não
desconsidere uma pergunta indevida ou descabida. Não humilhe o outro. Outra
dica é evitar o “eu acho”. Achismos não são nada. O contato visual também é
importante, exceto em alguns países orientais, como o Japão, onde ele é
considerado invasivo. No Brasil, passa empatia.
O que faz todo mundo cochilar ouvindo um discurso? Linguagem
rebuscada, o que é diferente de linguagem erudita.
Quais são as frases certeiras para pedir um aumento? Uma pessoa que
apresentou bons resultados no passado e ainda não teve aumento, para
consegui-lo, deve buscar algum tipo de atualização ou de nova qualificação
profissional e explicar ao chefe que gostaria de realizá-la com um incentivo
financeiro. Falar que “gostaria de um plano de carreira” também é bom.
Pode dar três conselhos para falar bem em público? Organize as ideias
de acordo com o tempo que você terá e, antes de falar, ensaie a apresentação.
Fale de forma suave. Envolva a plateia com uma brincadeira, cite um filme ou
até conte uma história pessoal que tenha a ver com o que será apresentado. Isso
se chama, no nosso jargão, gancho.
Por Thaís Botelho – Veja de 30 de março de 2016. p.32
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