sábado, 30 de julho de 2011

Resíduo, Carlos Drummond de Andrade

De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
Ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
Captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
De ternura ficou um pouco
(muito pouco)

Pouco ficou deste pó
De que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
De duas folhas de grama,
Do maço
- vazio – de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco do teu queixo
No queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
Um pouco ficou, um pouco
Nos muros zangados,
Nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
No pires de porcelana,
Dragão partido, flor branca,
Ficou um pouco
De ruga na vossa  testa,
Retrato.

Se de tudo fica um pouco,
Mas por que não ficaria
Um pouco de mim? No trem
Que leva ao norte, no barco,
Nos anúncios de jornal,
Um pouco de mim em Londres,
Um pouco de mim algures?
Na consoante?
No poço?

Um pouco fica oscilando
Na embocadura dos rios
E os peixes não o evitam,
Um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
Pinga esta gota absurda,
Meio sal e meio álcool,
Salta esta perna de rã,
Este vidro de relógio
Partido em mil esperanças,
Este pescoço de cisne,
Este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
De mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
De tudo ficou um pouco;
Vento nas orelhas minhas,
Simplório arroto, gemido
De víscera inconformada,
E minúsculos artefatos:
Campânula, alvéolo, cápsula
De revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
E abafa
O insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
E sob as ondas ritmadas
E sob as nuvens e os ventos
E sob as pontes e sob os túneis
E sob as labaredas e sob o sarcasmo
E sob o soluço, o cárcere, o esquecido
E sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
E sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
E sob tu mesmo e sob teus pés já duros
E sob os gonzos da família e da classe,
Fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

Drummond, o poeta que não suspirava

“Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida”. O termo “gauche”, em sentido figurado, quer dizer às avessas, do lado torto, inadaptado à realidade que o rodeia. Drummond nasceu em Itabira, uma cidade rica em minério de ferro. Seu pai era muito calado, e com sua mãe teve grandes laços de afeto.
(...) Abençoa-me e acaricia-me, porque sou sempre criança a teus olhos, enquanto o velho em mim se confirma. E se dentro de mim existires, em ti também vou existindo e nossas vidas se confundem...”

Na infância tomou gosto pelos livros e, logo que começou a estudar, fez a mais bela redação da sala. Mesmo tímido, trocava publicações com outras pessoas, revistas vindas do Rio de Janeiro, com textos de autores renomados. Aos dezoito anos mudou, com a família, para Belo Horizonte. Fez amizade com jovens boêmios como Pedro Nava, Abgar Renault, Emílio Moura, Alberto Campos, João Alphonsus de Guimarães, dentro outros, com os quais lançou o Modernismo em Minas Gerais. Nessa mesma época, iniciou o curso de Farmácia, concluído em 1925, mas não se adaptou à profissão, nem às atividades de fazendeiro como o pai. Casou-se com Dolores e passou a lecionar Português e Geografia em um ginásio, em Itabira. Voltou a Belo Horizonte, trabalhou como redator-chefe do jornal Diário de Minas, mais tarde deixou o jornal para trabalhar em outras publicações oficiais.

Em 34 mudou-se para o Rio de Janeiro e torna-se funcionário público, segundo ele, para sustentar a família. Acumula as funções de cronista e faz poesia, por vocação. Aposentou-se do funcionalismo e da crônica, jamais abandonou a poesia.

Carlos Drummond de Andrade exerceu 56 anos de atividade poética. Seus primeiros escritos são influenciados pelo movimento modernista de 1922, como Alguma Poesia e Brejo das Almas, com temas cotidianos e o predomínio do “eu”.  Em seguida passou a abordar os temas sociais e uma linguagem mais sóbria e clássica, como em Sentimento do Mundo, José e A Rosa do Povo.

Mãos Dadas:
“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
(...)
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
(...)
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

Do livro Novos Poemas até A vida passada a Limpo, os poemas tratam de temas sociais e individuais, de questionamentos sobre o sentido da vida, com muitas contradições.  Já em Lição de Coisas, o poeta sintetiza as fases anteriores, retomando o humor da primeira fase. Em suas últimas obras, cultivou a memória, os amigos, o amor, questionou a vida, os homens e a si mesmo. Os poemas de Amor Natural, considerados eróticos, surgiram como novidade na época.

Sob o chuveiro amar
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
Ou na banheira amar, de água vestidos,
Amor escorregante, foge, prende-se,
Torna a fugir, água nos olhos, bocas,
Dança, navegação, mergulho, chuva,
Essa espuma nos ventres, a brancura
Triangular do sexo – é água, esperma,
É amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?”


A família, os amigos, a terra natal, o choque com o mundo, foram tentativas de interpretar o porquê da existência. O “eu retorcido” na busca por situar-se como indivíduo e solucionar contradições é um tema relevante em sua obra. De riso raro, Drummond fez da poesia seu canal de comunicação com  o mundo.

Em 1987, Maria Julieta, sua única filha, faleceu em decorrência de um câncer. O poeta, não suportando a perda, faleceu doze dias depois, deixando algumas obras inéditas. No poema A mesa, há um fragmento em alusão a sua filha:

“Repara um pouquinho nesta,
No queixo, no olhar, no gesto,
E na consciência profunda
E na graça menineira,
E dize, depois de tudo,
Se não é, entre meus erros,
Uma imprevista verdade.
Esta a minha explicação,
Meu verso melhor ou único,
Meu tudo preenchendo meu nada”.

A caixa preta, Amoz Oz


Por meio de cartas entre os envolvidos na trama, um relacionamento é passado a limpo. Seus remetentes escreviam tudo que sentiram e sentiam em relação ao outro. Numa mesma carta encontram-se elogios, lembranças boas, assim como são colocadas as mágoas, expectativas não correspondidas, amor e ódio.

O livro começa com uma carta sendo enviada por Ilana ao seu ex-marido, Alexander, depois de sete anos de separação, em um divórcio conturbado no qual ela e filho não receberam nada em dinheiro, nem em contatos. Ela conta a Alexander os problemas que o filho deles, Boaz, vem passando. O rapaz não se adapta a nenhuma escola, é arredio, embora tenha um bom coração. Ilana mora em Jerusalém, é casada com Michel, um judeu fanático, e têm uma filha, Yifat.  Alexander é um famoso escritor e professor, residindo nos Estados Unidos, mas que viaja constantemente para dar palestras.

Depois de ler a extensa carta de Ilana, Alec responde, friamente, pedindo que ela aguarde o contato de seu advogado, Zahkeim, que lhe dará uma quantia em dinheiro, sugerida por ela, para ajudar na educação do filho. Em seguida escreve uma carta ao marido de Ilana, explicando a doação. O advogado não concorda com a forma com que Alec vem cedendo dinheiro à família de Ilana e também se manifesta por meio de cartas ou telegramas.

Por razões que a princípio Ilana não consegue explicar, talvez para deixar claro tudo que havia acontecido no passado, ela passa a escrever ao ex-marido com muita freqüência, escondido do marido. São cartas em que questiona muitos aspectos do tempo em que viveram juntos e relata, ainda, sua vida no presente. Às vezes chora, se emociona, às vezes sente raiva e esbraveja. Ele responde às cartas, e de certa forma, muitas coisas vão sendo esclarecidas.

Há também cartas trocadas entre Michel e Boaz, entre Ilana e sua irmã, Rahel, e entre Michel e Alexander. Aos poucos as cartas entre Ilana e Alec se tornam menos duras, e eles conseguem “conversar” melhor, tentando cada um entender o outro.

As referências ao judaísmo são, na maioria das vezes, feitas por Michel, que venera as escrituras, a Torá. Ele funda um movimento pela libertação de Israel. Já Alec, apesar de ser judeu, condena o fanatismo religioso. No seu livro menciona “na alma do fanático estão fundidas a violência, a redenção e a morte em única massa. Alex Guideon faz, em seu livro, uma análise lingüística precisa do vocabulário característico a todos os fanáticos nas diversas eras e nos extremos diversos do espectro religioso e ideológico.”

Interessante Alex mencionar a epígrafe do seu livro, retirada de Jesus, distinguindo-o como um delicado fanático: “Todos os que vivem pela espada, pela espada morrerão”. “Não pensem que vim trazer paz para a Terra; não vim trazer a paz, mas a espada”. No mesmo livro ele aborda o “catolicismo melado”, quando diz que a felicidade é basicamente uma banal invenção católica. No judaísmo não existe nenhum conceito de felicidade. O judaísmo reconhece apenas a alegria, efêmera. Ilana responde que há felicidade no mundo, e que o sofrimento não é o seu oposto. Cita e discorda de Tolstoi “todas as famílias felizes se parecem, enquanto as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”.

Entre as cartas surgem algumas notas escritas pelo professor Alexander Guideon em pequenas folhas. Todas as anotações são numeradas e parecem ser um exercício de reflexão de Alex, ou temas para palestras. Mais tarde fica-se sabendo que ele é uma pessoa extremamente organizada.

Nas primeiras notas há reflexões sobre o futuro, o passado e o presente. “A negação do Presente é um disfarce para a autonegação”. Nascimento e morte. Diz que a antiga língua hebraica não possui o tempo presente, apenas o particípio. O tempo não é aquele em que as palavras são lidas, mas como a representação de uma peça teatral. Paradoxalmente, o desejo de destruir o presente em nome do passado e do futuro envolve sua própria contradição: a abolição de todos os tempos. A história, junto com os poetas, é banida da república ideal de Platão. E de Jesus e de Lutero e de Marx e de Mao e de todos os outros. E habitará o lobo com o cordeiro.

Em outras notas se refere à fé, à redenção. Fala que a fé é a capacidade de não distinguir mais nada, em que se perde a auto-estima (pág. 153). Um homem se ocupa com suas próprias questões enquanto tem interesses e privacidade. Na ausência destes, pelo medo do vazio da vida, ele se volta para os assuntos dos outros.

Boaz vai morar na mansão abandonada que o pai lhe deu. Leva alguns amigos e começam as reformas, com muito entusiasmo. Ilana vai passar uns dias com ele e os amigos e leva a filha. Na mesma ocasião, sem combinações, Alec, doente, com câncer no abdômen, vai visitar o filho e, a convite dele, fica morando na casa. Michel acha que está sendo traído e quer a filha de volta. Alec lhe explica que não fora nada combinado e que Ilana resolvera ficar como enfermeira dele, que não havia qualquer relacionamento entre eles. Seus dias estavam contados. Mas Michel, assim como Alec, também quer ter sua autoridade, busca a filha e prepara os papéis de divórcio com Ilana.

O livro termina com Alec ainda vivo, porém muito fraco. Ilana escreve uma carta pedindo perdão a Michel, pedindo também que a receba de volta, pois ela o ama. Ele responde, por meio de versículos bíblicos, que Deus sempre perdoa. Quanto ao seu perdão, fica uma dúvida.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto

Belo porque é uma porta 
abrindo-se em mais saídas.  

Belo como a última onda 
que o fim do mar sempre adia.  

é tão belo como as ondas 
em sua adição infinita.  


Belo porque tem do novo 
a surpresa e a alegria.  

Belo como a coisa nova 
na prateleira até então vazia.  

Como qualquer coisa nova 
inaugurando o seu dia.  

Ou como o caderno novo 
quando a gente o principia. 
 
E belo porque o novo 
todo o velho contagia.   

Uma professora muito maluquinha - Ziraldo

Uma professora muito maluquinha, de Ziraldo, foi publicado em 1995, e conta uma história que se passa na década de 40, em um pequena cidade do interior. Inspirado em sua professora da primeira série, Catarina, ou Dona Kate, Ziraldo fala de uma professora diferente, que amava ler. Ela era uma menina de apenas 16 anos, linda para os meninos e um anjo para as meninas. Para estimular a leitura entre seus alunos, ela fugiu dos padrões normais de ensino e aprendizagem e usou métodos divertidos, inovadores, sucesso na sala de aula.

O método de ensino, utilizado pela professora naquela época, seria muito bem vindo na atualidade, visto que fazem parte da proposta dos PCNs, homologados pelo Governo em 1998. Eram usados jogos, como “Forca”, caça-palavras em anúncios de revistas, distribuição de gibis, para serem lidos em sala, com o exemplo da professora, que lia seu próprio livro. Essa atividade de leitura era, inclusive, feita às escondidas da diretoria da escola, que achava que gibis não faziam parte do currículo escolar.

As crianças adoravam as aulas da Dona Kate, porque tudo era aprendido com uma finalidade. Quando a professora escrevia uma frase no quadro, quem conseguisse ler primeiro ganhava o que estava lá escrito. A sua primeira frase foi: “Debaixo da última carteira da fila do meio tem uma maçã embrulhadinha. Quem ler esta frase até o fim, ganha a maçã. Pode ir lá pegar.” E a festa foi repetida várias vezes. Festa, porque suas aulas eram como uma festa para a meninada. Uma outra frase interessante foi um bilhete: “Quem, até o final da aula, tiver lido com cuidado esta frase e tiver prestado bastante atenção nela, vai escrever um bilhetinho para mim e deixar sobre a minha mesa com seu nome. Neste bilete o aluno vai dizer qual foi a palavra que escrevi errada. A) A Professora.”

Se alguém fizesse alguma coisa que parecesse errada, não havia castigo, mas um julgamento. Um aluno para a acusação e outro para a defesa. O resto da turma eram os jurados. E, no final do ano, quando todos já estavam lendo tudo, ficou decidido que as defesas e acusações seriam feitas por escrito. Dessa forma eram produzidos os textos das crianças, com bastante criatividade.

Houve uma outra invenção da professora, dessa vez para incentivar a leitura de poemas. Ela usou uma bobina de papel, do tipo que a gente vê nas lojas que ainda embrulham as mercadorias. Depois colocou uma manivela na bobina. O poema era escrito no papel e, girando a manivela bem devagar, os versos iam surgindo no papel, de baixo para cima. A cada dia era um poema novo e a “máquina” girando um pouco mais rápido.

O ano letivo estava chegando ao fim. A professora comunicou à diretora que seus alunos não precisavam fazer provas, pois tinham condições de passar de ano. Entretanto a prova foi aplicada e todos tomaram bomba, pois a escola exigiu das crianças outro tipo de conhecimento. Na verdade, eles não haviam estudado as denominações do que aprendiam, como verbo, adjetivo, localização de países distantes, nomes de rios, datas de alguns acontecimentos históricos. Eles sabiam tudo, mas não haviam decorado nada.

No ano seguinte a maluquinha fugiu da cidade, com o namorado. Naquele dia, os meninos e as meninas não se preocuparam, como todos, para onde ela tinha ido e com quem. Eles queriam apenas decifrar uma mensagem codificada que ela havia deixado para eles. Após a leitura do bilhete, constataram que Dona Kate havia cometido um único erro com seus alunos: o de achar que eles iam precisar crescer para entender.

O livro termina com uma pequena declaração de espanto e admiração, referindo-se ao tempo que passara tão rápido, e com o desejo de guardar, na memória, a Professora Maluquinha, que os ajudou a construir, cada um, a própria felicidade.

Toda arte se completa - "O Bobo" e "A vida dos outros"


O romance O Bobo, de Alexandre Herculano, narra um período da independência de Portugal, no qual o filho de D. Teresa, Afonso Henriques, lidera uma guerra contra Fernando Peres, o conde de Trava, amante de sua mãe. O relato acontece no castelo de Guimarães e no seu entorno. Os acontecimentos remetem ao período anterior e posterior da batalha de Aljubarrota. De acordo com o texto, se Afonso Henriques não houvesse tirado o poder das mãos de sua mãe, Portugal poderia ter sido uma província de Espanha por um longo tempo.

Dom Bibas, o bobo da Corte, tem um papel importantíssimo na trama. Diferentemente de como acontecia na Idade Média, em que o cargo de Truão correspondia ao dos censores da República Romana, no período em que se passa essa narrativa. O bobo era considerado uma pessoa de pouca valia, uma figura que refletia as feições hediondas de uma sociedade desordenada e incompleta.

Dom Bias vem mostrar sua perspicácia e provar que de bobo, no sentido literal da palavra, ele não tem nada. Enquanto durante os saraus ele explorava os ditos satíricos para a hilaridade dos cortesãos, fora dos salões voltava à obscuridade, ao animal doméstico que deveria varrer da alma todos afetos e sentimentos maiores para esquecer das injustiças do mundo. Sua posição dentro da Corte é estratégica, uma vez que tem acesso a todos os aposentos. Sempre atento, toma conhecimento de muitas decisões políticas importantes e de muitos segredos.

A parte romântica da história é protagonizada por Dulce, uma das sobrinhas de D. Tereza, que ama secretamente Egas Moniz, um cavaleiro pobre que luta ao lado de Afonso Henriques. Entretanto, o Conde de Trava incentiva um jovem cavaleiro, Garcia Bermudez, a se casar com a menina.

Egas Moniz vem ao castelo com uma mensagem de paz, mas o Conde de Trava ignora o pedido e prende o cavaleiro. Dulce sofre ao saber da prisão do amado. Fernando Peres, quando fica sabendo do amor de Dulce pelo cavaleiro, propõe a ela o casamento com Garcia Bermudez em troca da vida de Egas. Nesse ínterim, Egas acha que foi traído por Dulce. D. Bibas, para se vingar do conde contra os açoites de que fora vítima, decide ajudar o cavaleiro a fugir.

Durante a batalha, que não é narrada no romance, Egas mata Garcia Bermudez. Ao tomar conhecimento do acontecido, Dulce se sente traída pois não aprova a violência de seu amado, decide então se matar. Alguns dias se passam até que Egas é encontrado morto sobre o túmulo de Dulce.

Após a batalha em que Afonso Henriques sai vitorioso, Dom Bibas retoma suas funções no castelo, uma vez que um dos grandes trunfos da batalha havia sido a passagem secreta, conhecida apenas pelo Bobo, pela qual os soldados de Afonso Henriques entraram no castelo.

Alexandre Herculano, por meio de suas obras, faz críticas à sociedade da época, narrando seus costumes e valores. Apresenta, ao mesmo tempo, fatos históricos de grande relevância, com riqueza de detalhes. Para conquistar leitores, vale-se da forma platônica e trágica dos amores impossíveis.

Podemos encontrar elementos semelhantes a esta obra no filme “A vida dos outros”, dirigido por Florian Henckel Von Donnesmarck, principalmente no que se refere à posição social do Bobo relacionada com um agente da polícia política da Alemanha oriental que, ao ser encarregado de espionar a vida de um dramaturgo, acaba por tornar seu aliado, sem deixar de cumprir com suas obrigações junto ao governo.

A história se passa na Berlim socialista de 1984 e mostra os conflitos vivenciados pelos alemães descontentes com o regime político, com a separação da cidade e com a falta de liberdade. As pessoas são vigiadas quanto à transmissão de informações entre as duas cidades, assim como são impedidos de atravessarem a fronteira, a menos que obtenham prévia autorização após rigorosa investigação.

O agente da Stasi,  Gerd Wiesler, se instala em um apartamento onde faz  escutas e deve fazer relatórios diários sobre todos os passos do dramaturgo Georg Dreyman, suspeito de enviar informações para Berlim ocidental, assim como a vida de sua mulher, a atriz Christa-Maria Sieland e seus amigos.

 Wiesler, um homem solitário e triste, se deixa levar pelo fascínio da vida do dramaturgo e passa a viver a vida dos outros - de Dreyman e sua mulher e dos personagens de um livro de Brecht. Assim, começa a omitir, em seus relatórios, uma série de informações que incriminariam Dreyman, e que vai facilitar a publicação de um artigo comprometedor ao regime socialista.

São empreendidas buscas no apartamento de Dreyman, na tentativa de encontrar a máquina de escrever que teria sido usada para datilografia da reportagem. No meio das investigações, Christa-Maria, em troca das drogas que consumia, se tornara amante do ministro da Cultura e fora induzida a revelar o esconderijo da máquina. Mas Wiesler corre ao apartamento e tira a máquina do lugar, antes da polícia chegar. Christa-Maria, envergonhada e arrependida de sua atitude, corre para a rua e entra na frente de um caminhão, vindo a morrer.

Anos mais tarde, o escritor descobre que seu apartamento havia sido grampeado e que  alguém do antigo regime o havia ajudado. Após investigações, escreve um livro e o dedica ao agente, que trabalhava como carteiro.  Wiesler se sente recompensado quando se depara com uma dedicatória para si mesmo, em código,  no famoso livro de Dreyman.

A arte sempre se transforma e nos surpreende. O ser humano, na espiral do tempo, se renova, se recicla e se surpreende. Um bobo da corte não poderia ser um homem ignorante e tolo, uma vez que tinha que conhecer bem seus superiores para saber como lhes agradar. Um homem solitário e compromissado com o seu trabalho pode tomar decisões contrárias ao que lhe é ordenado, desde que saiba equilibrar suas ações. Tudo isso nos leva a considerar os dois personagens, Dom Bias e Wiesler, dentro da perspectiva crítica sociológica, como dois homens solitários, inteligentes, que se valem da posição que ocupam na sociedade para buscarem a sobrevivência e dar um pouco de conforto a suas tão sofridas existências.


Prece Pietro Ubaldi

Senhor!
Aqui estamos em Tua Presença, buscando nos concentrar, a fim de olhar o nosso íntimo, onde Tu habitas, abrindo, também, a nossa mente à Tua Luz e o nosso coração ao Teu Amor.

Nada temos a Te pedir, pois Tu sabes todas as nossas necessidades, como sabemos também ser a nossa felicidade o Teu maior desejo, ainda que tenhamos de alcançá-la pelos caminhos da dor.

Nós Te pedimos somente forças, Senhor, para obedecer a Tua Lei, pois temos certeza de que a dor desaparecerá um dia, e conquistaremos a felicidade perfeita, quando conseguirmos viver na Tua Ordem.

Ilumina, pois, a nossa mente com a Tua Luz, aquece o nosso coração com Teu Amor, a fim de que possamos caminhar sempre juntos, no cumprimento de Tua Lei.
Assim Seja!

Apresentação

Meu nome é Maria do Rosário, nome de santa. Não sou santa nem sou má, acredito. Meus interesses são livros, filmes, música, história e boas notícias.